Protestos violentos eclodem em Dublin após ataque a faca contra crianças
Polícia afirmou que o incidente poder estar relacionado com terrorismo, levando às ruas multidões anti-imigração que incendiaram casas e saquearam lojas
Um ataque a faca em Dublin, capital da Irlanda, deixou cinco pessoas feridas, entre elas três crianças, na noite de quinta-feira 23. O incidente provocou protestos violentos no centro da cidade, a maioria com mote anti-imigração, depois que a polícia afirmou que o ataque poderia estar relacionado com terrorismo.
A cidade suspendeu os transportes públicos e hospitais aconselharam pacientes a não se deslocarem desnecessariamente para centros médicos próximos ao local do incidente, na via principal O’Connell Street, devido a confrontos entre a polícia de choque e manifestantes anti-imigrantes.
Um ônibus de dois andares foi totalmente queimado em frente à estátua de Daniel O’Connell, no início da rua, e janelas foram quebradas em um hotel Holiday Inn e uma unidade do McDonald’s. Uma loja foi saqueada, e um carro da polícia também foi incendiado.
“São cenas vergonhosas. Temos uma facção completamente lunática e hooligan, impulsionada pela ideologia da extrema direita, envolvida em violência grave”, disse o comissário da polícia, Drew Harris, em coletiva de imprensa, depois de enviar 400 agentes para restaurar a ordem pública.
Embora a polícia não tenha comentado sobre a nacionalidade do autor do ataque, rumores nas redes sociais o atribuíram a um cidadão estrangeiro. A multidão que ocupou a área onde ocorreu o incidente usou gritos como “tire-os daqui”, referindo-se a imigrantes. Muitos atiraram objetos contra a tropa de choque, inclusive usando disparos de fogos de artifício.
Tumultos como esses são quase sem precedentes em Dublin. Não há partidos ou políticos eleitos de extrema direita na capital irlandesa. No entanto, pequenos protestos anti-imigração aumentaram no último ano. Recentemente, o governo decidiu rever a segurança em torno do parlamento depois de um outro protesto ter prendido legisladores no prédio do governo.
No pequeno país de 5,3 milhões de habitantes, a migração nos últimos 12 meses subiu para o segundo nível mais elevado desde o início dos registros. Cerca de 100 mil refugiados ucranianos chegaram à Irlanda desde a invasão da Rússia, em fevereiro do ano passado, um dos valores per capita mais elevados da União Europeia.
Segundo Harris, todas as linhas de investigação relacionadas ao ataque permanecem abertas, contradizendo um oficial superior que havia dito anteriormente que o incidente não estava relacionado a terrorismo.
“Não vou especular mais sobre motivos terroristas. Até termos certeza de qual é o motivo, temos que manter a mente aberta sobre por que isso aconteceu”, disse ele.
A ministra da Justiça, Helen McEntee, afirmou em coletiva de imprensa: “Há um grupo de pessoas, bandidos, criminosos, que estão a usar este ataque terrível para semear a divisão”.
“Toda força possível está sendo usada pela Gardai (polícia) para restaurar a ordem. Isto não será tolerado”, acrescentou.
Uma menina de 5 anos foi gravemente ferida no ataque e levada para tratamento de emergência no hospital, bem como uma mulher na casa dos 30 anos. As outras duas crianças, um menino de 5 e uma menina de 6, sofreram danos mais brandos – ele já recebeu alta.
Um homem de quase 40 anos, também em tratamento para ferimentos graves, foi preso como o único suspeito.
A polícia disse que, aparentemente, o homem atacou várias pessoas na Parnell Square, em Dublin, durante a tarde. O esfaqueamento foi interrompido por civis no início do ataque.