Protestos avançam no Cazaquistão e deixam dezenas de manifestantes mortos
Ao menos uma dúzia de polícias morreu em confrontos, incluindo um que foi encontrado decapitado, segundo autoridades locais
Dezenas de manifestantes morreram no Cazaquistão após ataques a prédios do governo e ao menos uma dúzia de policiais morreu, incluindo um que foi encontrado decapitado, afirmaram autoridades nesta quinta-feira, 6.
Houve tentativas de invasão a prédios durante a noite na maior cidade do país, Almaty, e “dezenas de agressores foram eliminados”, disse a porta-voz da polícia Saltanat Azirbek, ao canal de notícias estatal Khabar-24. Segundo a porta-voz, cerca de 350 agentes da segurança ficaram feridos.
As manifestações públicas de insatisfação contra o aumento do preço dos combustíveis eclodiram durante o fim de semana na cidade de Zhanaozen, na região oeste do país, área de forte exploração de petróleo, e desde então, as demonstrações se espalharam por várias cidades, incluindo a capital, Nursultan.
Embora limitados à questão no início, o avanço rápido dos protestos também reflete um descontentamento mais amplo no país, que está sob comando do mesmo partido desde que se tornou independente da União Soviética, em 1991. O partido governista também conta com mais de 80% das cadeiras do Parlamento.
#Kazakhstan 🇰🇿: sight of mass protests in #Almaty.#Zhanaozen2022 pic.twitter.com/w7DbxwxiV6
— Thomas van Linge (@ThomasVLinge) January 4, 2022
Na quarta-feira, o presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, aceitou a renúncia do primeiro-ministro, Askar Mamin, o que na prática significa a queda de todo o governo. As manifestações, no entanto, não diminuíram e o país chegou a pedir ajuda à aliança liderada pela Rússia, que prometeu enviar “soldados da paz” por um “período limitado de tempo, com objetivo de estabilizar e normalizar a situação”.
A fim de frear a agitação, Tokayev também ordenou a implementação da regulamentação estatal de preços de bens de primeira necessidade, incluindo gás liquefeito, gasolina e diesel, por 180 dias. Ele também impôs um teto para o aumento dos preços dos serviços comunitários no mesmo período e levantou a necessidade de estudar a possibilidade de subsidiar o aluguel de moradias para os setores mais vulneráveis da população.
Invasões a prédios públicos
De acordo com a agência de notícias Interfax-Kazakhstan, mais de cem manifestantes invadiram na quarta-feira a sede da prefeitura de Almaty e chamas e uma densa fumaça podem ser vistas das janelas do segundo andar do edifício, enquanto os manifestantes o cercam e gritam palavras de ordem como “Avante, Cazaquistão”.
Armados com bastões, os manifestantes forçaram os policiais que faziam a segurança do prédio a recuar para ruas próximas e tiraram de vários deles escudos e coletes à prova de balas. Parte da sede do Ministério Público também foi incendiada, assim como 30 veículos que estavam próximos, incluindo viaturas policiais.
Na cidade de Aktobe, no oeste do país euroasiático, manifestantes também conseguiram invadir a sede da prefeitura, que foi sitiada por mais de mil pessoas, segundo a imprensa cazaque.
Já em Kostanai, no norte, dezenas de pessoas se reuniram fora da sede da administração municipal, mas a polícia conseguiu evitar uma invasão. Em Petropavl, também no norte, policiais dispersaram cerca de 50 manifestantes que também foram para a sede da prefeitura local.