Presidente do Kosovo é indiciado por crimes de guerra cometidos há 21 anos
Hashim Thaçi e outros nove ex-comandantes do Exército de Libertação são acusados de tortura, dentre outras infrações às Convenções de Genebra
O Escritório do Promotor Especializado (GPE) decidiu acusar oficialmente o atual presidente do Kosovo, Hashim Thaçi, e outros nove ex-comandantes do Exército de Libertação do país por crimes de guerra e crime contra a humanidade, ocorridos durante a Guerra de Independência, entre 1998 e 2000.
“O indiciamento é apenas uma acusação. Ele é o resultado de uma longa investigação e reflete a determinação de que o GPE pode provar todas as acusações além de uma dúvida razoável”, afirma o órgão em comunicado.
O Escritório do Promotor Especializado foi criado juntamente com as Câmaras Especializadas do Kosovo (CEK) para apurar os crimes cometidos no conflito. Eles fizeram parte das negociações durante o processo de paz e foram ratificados pelo parlamento do Kosovo, em acordos internacionais e em uma emenda na Constituição do Kosovo. Enquanto, o GPE acusa, as CEK´s conduzem os julgamentos. Ambos ficam em Haia, na Holanda, e são compostos por especialistas independentes de diversos países.
No processo em questão, o GPE ainda acusa especificamente Thaçi e Kadri Veseli — um dos outros nove indiciados e líder da oposição na Assembleia do Kosovo — de tentarem obstruir as investigações.
“Acredita-se que Thaçi e Veseli tenham realizado uma campanha secreta para derrubar a CEK e obstruir o trabalho da CEK na tentativa de garantir que eles não enfrentem justiça”, justificou o GPE para a divulgação das acusações.
Thaçi, Veseli e os outros nove ex-comandantes do Exército de Libertação do Kosovo, que lutaram contra a Sérvia pela independência do Kosovo, são acusados de cometerem torturas, desaparecimentos forçados de pessoas, perseguições e cerca de 100 mortes que são tipificados como “crimes de guerra” pelas Convenções de Genebra, dentre outros tratados internacionais.
Eles também são acusados de “crimes contra a humanidade”, um conceito que é considerado ainda “não claro” pelas Nações Unidas, envolvendo principalmente “atos cometidos como parte de um ataque generalizado ou sistemático dirigido contra qualquer população civil”.
O anúncio do indiciamento levou Thaçi a cancelar um encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que estava previsto para acontecer em Washington, neste sábado, 27.
Kosovo
Embora tenha declarado independência da Sérvia, em 2008, cerca de oito anos após o final da guerra, e seja governado por um presidente, o Kosovo é um Estado apenas parcialmente reconhecido pela comunidade internacional.
Dos mais de 190 países membros das Nações Unidas, somente 100 reconhecem a soberania do Kosovo. O restante, incluindo o Brasil, continua a considerá-lo como uma região da Sérvia.
(Com Reuters)