Presidente da Guiana pede indenizações aos descendentes de escravocratas
Irfaan Ali também exige acusações póstumas por crimes contra a humanidade contra pessoas envolvidas no tráfico de escravos
![Mohamed Irfaan Ali, president of Guyana, speaks during the United Nations General Assembly (UNGA) in New York, US, on Wednesday, Sept. 21, 2022. All eyes will be on US President Biden on Wednesday as he tries to rally international support for Ukraine following Russia's escalation with world leaders gathered at the United Nations. Photographer: Jeenah Moon/Bloomberg via Getty Images](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2023/08/GettyImages-1243410662.jpg?quality=90&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
O presidente da Guiana instou na quinta-feira, 24, os descendentes dos traficantes de escravos da Europa a se oferecer a pagar reparações pelos crimes históricos. Irfaan Ali também exigiu que os envolvidos no comércio transatlântico de escravos e na escravização africana fossem acusados postumamente por crimes contra a humanidade.
Ali disse que as reparações eram “um compromisso para corrigir erros históricos”. A declaração foi feita pouco antes de um pedido oficial de desculpas dos descendentes de John Gladstone, escocês proprietário de plantações de açúcar e café do século XIX e pai do quatro vezes primeiro-ministro William Gladstone.
“O comércio transatlântico de escravos e a escravização africana foram uma afronta à própria humanidade. A hediondez deste crime contra a humanidade exige que procuremos corrigir estes erros”, disse Ali.
Os países da Comunidade do Caribe, incluindo a Guiana, contrataram um escritório de advogados britânico para examinar o seu caso de compensação financeira por parte do Reino Unido e de outros países europeus. O bloco disse ter sido informado de que o seu argumento é forte e deve ser prosseguido.
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“Os descendentes de John Gladstone devem agora também delinear o seu plano de ação em linha com o Caricom um plano de justiça reparatória para a escravatura e o contrato de trabalho”, acrescentou Ali.
Porém, o presidente também acolheu o pedido de desculpas da família. Ele descreveu o comunicado como “um reconhecimento da natureza cruel da escravização e do contrato de trabalho africanos na Guiana e um acto de contrição que abre caminho à justiça”.
“A família Gladstone admitiu que se beneficiou da escravização africana e da escritura em Demerara e outras plantações de propriedade de seu patriarca, John Gladstone”, acrescentou.
Seis descendentes de Gladstone, incluindo vários historiadores, chegaram à Guiana na quinta-feira, quando o país comemorou o 200º aniversário da rebelião de escravos de 1823. Segundo pesquisadores, essa rebelião abriu o caminho para a abolição da escravidão.
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A família vai participar de uma breve cerimônia na Universidade da Guiana nesta sexta-feira, 25. A própria universidade foi fundada em terras de plantações “onde as revoluções foram realizadas”, disse a instituição de ensino superior. Na cerimônia, a universidade também lançará o seu Centro Internacional de Migração e Estudos da Diáspora, em colaboração com o comité nacional de reparações da Guiana e com os Herdeiros da Escravidão, um grupo de lobby criado por famílias britânicas que podem traçar a origem dos seus antepassados até à escravização dos africanos.
Após a cerimônia, a universidade acolherá “um diálogo intergeracional” entre estudantes e membros da família Gladstone, bem como uma exposição de trabalhos acadêmicos sobre o tema.
Embora alguns países tenham apresentado desculpas formais pela escravatura, incluindo os Países Baixos, o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, se recusou a pedir desculpa pelo papel do país no comércio de escravos ou a se comprometer a pagar reparações. Porém, no início desta semana, o juiz jamaicano Patrick Robinson disse que a maré internacional em matéria de reparações por escravatura estava a mudar rapidamente e pressionou o Reino Unido a mudar a sua posição.
“Acredito que o Reino Unido não será capaz de resistir a este movimento no sentido do pagamento de reparações: é exigido pela história e é exigido por lei”, disse Robinson.