Presidente da Coreia do Sul mandou ‘arrastar’ parlamentares para fora da Assembleia Nacional
Yoon Suk-yeol mergulhou país em crise política após decretar medida que restringe direitos da população, na última terça-feira, 3

O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, deu ordens para “arrastar” parlamentares para fora da Assembleia Nacional enquanto votavam para vetar a lei marcial decretada por Yoon, na semana passada, disse um militar do alto escalão nesta terça-feira, 10. Dos 300 parlamentares que compõem a casa, 190 participaram da sessão de emergência convocada durante o início da madrugada do dia 3, e todos votaram contra a medida, vista como o mais sério desafio à democracia do país desde a década de 1980.
“Ele (Yoon) disse ‘arrombem a porta agora e entrem lá (no Parlamento) para arrastar as pessoas de dentro'”, afirmou Kwak Jong-geun, comandante do Comando de Guerra Especial do Exército, a um comitê parlamentar, acrescentando que não cumpriu a ordem.
O líder sul-coreano abriu uma crise política após decretar a lei marcial na última terça-feira, justificando que a medida era necessária para proteger o país de “forças antiestatais” e “ameaças representadas pela Coreia do Norte”. O mecanismo estabelece medidas drásticas em cenários de crise, em especial contextos de guerra, como a suspensão temporária de leis e dos direitos civis e sua substituição pelas regras e pela administração militar.
Poucas horas depois, a Assembleia Nacional rejeitou a medida. Acuado, Yoon fez um pronunciamento televisionado à nação neste sábado, 7, para se “desculpar” pelo decreto. Ele afirmou que a decisão foi motivada por desespero e apresentou suas “sinceras desculpas ao povo que ficou chocado”, prometendo em seguida que não haveria uma segunda tentativa de implementá-la.
Em um raro apoio bipartidário, a Assembleia aprovou uma moção e nomeou conselheiro especial para investigar o caso da lei marcial. Yoon, seu ministro da Defesa, Kim Yong-hyun, o ex-ministro do Interior, Lee Sang-min, além de uma gama de oficiais militares agora enfrentam investigações criminais por abuso de poder e insurreição.
+ Oposição da Coreia do Sul diz que não destituir presidente é ‘segundo golpe’
Críticas da oposição
A oposição da Coreia do Sul acusou nesta segunda-feira, 9, o partido governista de aplicar um “segundo golpe” ao não destituir Yoon. A troca de farpas acontece após uma tentativa de impeachment fracassar no último sábado, por resistência do Partido do Poder Popular. A sigla alega que a saída forçada não seria necessária, já que Yoon concordou em abrir mão do poder para o primeiro-ministro Han Duck-soo.
“Este é um ato ilegal e inconstitucional de uma segunda insurreição e um segundo golpe”, disse o líder do Partido Democrata, Park Chan-dae, apelando que o partido de Yoon “pare com isso imediatamente”.
A Carta Magna sul-coreana estabelece que o presidente deve continuar como chefe de governo e comandante-chefe do Exército a não ser que fique incapacitado, renuncie ou abandone o cargo.Dentro dessas exceções, o chefe de Estado passa o comando ao primeiro-ministro de forma interina, até que novas eleições sejam convocadas.
Ainda nesta segunda-feira, o chefe do Escritório de Investigação de Corrupção para Altos Funcionários, Oh Dong-woon, disse que ordenou que Yoon fosse proibido de viajar ao exterior e, pouco depois, um funcionário do Ministério da Justiça, Bae Sang-up, afirmou durante uma audiência parlamentar que a ordem de proibição de viagens já havia sido assinada.