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‘Vamos continuar lutando’, diz deputado de Hong Kong preso pela China

Lam Cheuk-ting, que renunciou ao cargo no Conselho Legislativo de Hong Kong em novembro, foi detido nesta quarta-feira em operação de Pequim

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 jan 2021, 10h26 - Publicado em 6 jan 2021, 10h19

Na maior operação em Hong Kong até agora com base na lei de segurança nacional imposta pela China, mais de 50 pessoas, incluindo dezenas de figuras da oposição, foram detidas nesta quarta-feira, 6. Entre eles, está o ex-deputado Lam Cheuk-ting, que em 11 de novembro renunciou ao cargo após a expulsão de quatro companheiros do Parlamento.

Em entrevista a VEJA, Lam explica a decisão de renunciar ao cargo no Conselho Legislativo e já expressa temores pela draconiana Lei de Segurança Nacional, citando um “feito sobre a capacidade do povo manifestar livremente visões políticas”. A conversa aconteceu em novembro, quando Lam já temia ser preso.

As detenções desta quarta-feira, muitas delas relacionadas com as primárias celebradas pela oposição no ano passado, ilustram a pressão violenta de Pequim. A polícia confirmou que 53 pessoas, incluindo um cidadão americano, foram detidas por “subversão” em uma operação que aconteceu durante a manhã e teve a participação de quase 1.000 agentes.

Os partidários pró-democracia de Hong Kong são alvos de ataques permanentes desde que Pequim aprovou, no fim de junho do ano passado, uma lei draconiana de segurança nacional em resposta às grandes manifestações do ano passado.

Esta lei é definida pelos líderes chineses como uma “espada” suspensa sobre a cabeça de seus detratores. A norma almejava acabar com as grandes manifestações no território e reforçar o poder de Pequim sobre Hong Kong. Entre as punições previstas figura a detenção por mensagens publicadas nas redes sociais.

De acordo com os críticos, a lei representa um golpe fatal ao princípio de “um país, dois sistemas”, que garantia até 2047 uma série de liberdades inéditas na China continental Por este motivo, alguns ativistas decidiram partir para o exterior.

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O senhor recentemente chegou à decisão, junto a um bloco de deputados, de renunciar ao seu assento no Conselho Legislativo. Essa renúncia não deixa membros pró-Pequim sem nenhuma oposição real?

Dadas as violações às leis básicas, não tivemos escolha a não ser renunciar de nossos cargos para nos manifestarmos, veementemente, contra a decisão. Os quatro deputados eleitos e desqualificados sem razões válidas mostram o desrespeito às leis. Não iremos tolerar isso.

O mecanismo imposto para permitir que a chefe-executiva Carrie Lam tenha autoridade para desqualificar qualquer membro do Conselho Legislativo que supostamente tenha violado o juramento que prestamos é inaceitável. Isso é um uso arbitrário de poder.  O Governo Central desrespeita os artigos básicos da lei ao desqualificar um membro eleito pelo povo.

Como é enfrentar um inimigo tão poderoso quanto a China? 

Perante uma ditadura, temos que ficar juntos. Vamos continuar lutando. é uma batalha difícil, mas não temos escolha. Nós, o povo de Hong Kong, nos opomos veementemente à brutalidade de Pequim. Por conta da nova Lei de Segurança Nacional, já há um efeito sobre a capacidade do povo manifestar livremente visões políticas.

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Estamos vendo uma brutalidade e uma repressão acontecer. Temos que preservar nossas forças e tentar perseverar e lutar pela democracia.

Dadas as acusações contra o senhor, como pretende fazer isso? 

No momento eu enfrento cinco acusações formais. O regime usa qualquer poder disponível para nos perseguir politicamente. Eles destroem o Estado de Direito pleno em Hong Kong. Usam o Judiciário para perseguir dissidentes, incluindo manifestantes, membros do Conselho e jornalistas. Mas é importante mostrar o que está acontecendo, usar plataformas disponíveis para isso. Não iremos nos calar.

O senhor foi preso pelo que aconteceu…

Estamos preparados para a perseguição política. Fui preso há três meses, em uma das acusações mais sujas e arbitrárias que já vimos. Agora enfrento cinco acusações: três por protestos no Conselho Legislativo. As outras duas por minha participação no movimento pelo fim da Lei de Extradição. Pela participação no movimento, a sentença máxima é de 10 anos. é uma forma de me silenciar.

O senhor acha que é monitorado por autoridades?

No momento, não posso deixar Hong Kong. Eu preciso me apresentar a um tribunal mensalmente por conta das acusações. Acredito que há centenas de membros do Serviço Secreto monitorando figuras-chave da oposição. 

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Sua família ainda está na ilha. Teme por eles?

Tento fazer o meu melhor para protegê-la. Eles entendem a brutalidade do regime, mas é meu dever proteger meus familiares. Eles entendem o que eu faço, veem a importância de se posicionar.

Por que o mundo deve prestar atenção no que está acontecendo?

Acredito que o mundo precisa prestar atenção no que está acontecendo em Hong Kong porque o povo de Hong Kong está lutando pela democracia sob uma ditadura do Partido Comunista Chinês. Hong Kong é um bom exemplo para que pessoas de outros países entendam a natureza do Partido Comunista Chinês, como ele atua. Alguns países, nas Américas, por exemplo, flertaram com o comunismo no passado. Esse é um bom exemplo do que pode acontecer quando não há limites.

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