Por alta em detenção de imigrantes, abrigos nos EUA recebem número crescente de pets
Autoridades pediram para tutores montarem 'plano' para animais em caso de deportação

Os abrigos de animais de Los Angeles, nos Estados Unidos, vêm recebendo uma quantidade crescente de animais de estimação devido à cruzada anti-imigração do governo de Donald Trump. Desde o dia 10 de junho, 28 animais foram acolhidos após seus donos serem detidos em batidas do ICE, a temida agência imigratória americana, segundo reportagem da agência de notícias Reuters publicada nesta segunda-feira, 4.
Em entrevista à Reuters, o oficial de informações públicas do Departamento de Cuidados e Controle de Animais do Condado de Los Angeles, Christopher Valles, afirmou que os pets “se tornaram uma espécie de vítimas nessa situação porque, sem culpa própria, estão sendo levados para centros de assistência”. Os pets levados aos cuidados do condado ficam disponíveis para adoção. Enquanto não são encaminhados a novos lares, cães e gatos passam por exames de saúde e higienização.
As autoridades locais destacam a importância de que moradores passíveis de deportação ou detenção tenham um plano preparado para o caso de serem presos por agentes do ICE.
“Tenha um plano para que seu animal possa ser cuidado por um amigo próximo ou membro da família”, disse Valles. “Sabemos que estes são tempos desafiadores, mas se conseguirmos manter esse animal com o dono, com a família ou fora do centro de cuidados, esse é o nosso objetivo.”
O abandono de animais de estimação não é uma realidade exclusiva da Califórnia. Em entrevista ao jornal americano The Washington Post, a coordenadora da Missão de Resgate Adote e Salve uma Vida, Daymi Blain, afirmou que seu abrigo na Flórida acolheu pelo menos 19 cães, 12 gatos, 11 galos e inúmeros coelhos, porquinhos-da-índia e pombos desde o final de março.
A alta no número de animais abandonados coincide com áreas onde a fiscalização imigratória se intensifica. No Tennessee, a representante do grupo Big Fluffy Dog Rescue, Jean Harisson, disse que as instalações da organização têm sido inundadas por animais sem lar.
+ Governo Trump oferece bônus de até R$ 260 mil para recrutar novos agentes de deportação
Cerco aos imigrantes
Buscando aumentar o número de detenções de imigrantes irregulares e alcançar sua ambiciosa meta de 1 milhão de expulsões por ano, o presidente Donald Trump iniciou, na semana passada, uma campanha de recrutamento para dobrar o efetivo do ICE para 10 mil homens. O governo americano passou a oferecer bônus de até US$ 50 mil (cerca de R$ 260 mil), perdão de dívidas estudantis e até aposentadoria com benefícios estendidos.
A iniciativa faz parte do pacote de US$ 165 bilhões (R$ 914,5 bilhões) aprovado no novo orçamento do Departamento de Segurança Interna (DHS), o maior já destinado a uma força policial federal no país. Somente o ICE receberá US$ 76 bilhões (R$ 421,25 bilhões) — valor dez vezes superior ao orçamento original da agência. Nos primeiros seis meses da nova gestão, cerca de 150 mil pessoas foram deportadas, de acordo com dados obtidos pela emissora americana CBS. Caso mantido esse ritmo, o total anual ficaria em torno de 300 mil — um terço da meta anunciada.
Em julho, os EUA quebraram recorde de voos de deportação de imigrantes, segundo dados compilados de forma independente por Thomas Cartwright, membro do grupo de defesa da imigração Witness at the Border, apresentados pelo jornal espanhol El País. Ao todo, 209 voos de expulsão ocorreram em junho, o maior número desde 2000, e um aumento de 54% em comparação com a média dos seis meses anteriores.