Papa anuncia visita de Milei e diz estar ‘pronto para iniciar diálogo’
Durante corrida eleitoral, presidente argentino definiu pontífice como "representante do maligno" e "imbecil"

O papa Francisco receberá o presidente da Argentina, Javier Milei, na próxima segunda-feira, 12, no Vaticano. Durante à corrida à Casa Rosada, o ultraliberal polemizou ao chamar o pontífice de “representante do maligno” e “imbecil”, atraindo chuvas de críticas de católicos ferrenhos e de sacerdotes. No entanto, uma vez eleito, Milei procurou colocar panos quentes no passado e logo participou de uma ligação com Francisco, na qual recebeu votos de “sabedoria e coragem”.
A viagem do novo mandatário inicia uma nova página na história com o chefe da Igreja Católica. Em entrevista ao jornal italiano La Stampa, publicada nesta segunda-feira, Francisco contou que não se sentiu ofendido pelas controversas declarações do Milei, argumentando que “as palavras na campanha eleitoral vão e vêm”. Ele também revelou que o pedido por um encontro partiu do presidente, que foi prontamente aceito.
“No dia 11 de fevereiro acontecerá a canonização de Mama Antula , fundadora da Casa de Exercícios Espirituais de Buenos Aires. Antes das canonizações, costuma-se cumprimentar as autoridades na sacristia”, explicou. “E então eu sei que ele [Milei] marcou uma conversa comigo: eu aceitei, então nos veremos. E estou pronto para iniciar um diálogo com ele – palavras e escuta –, como com todos.”
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Viagem a Buenos Aires
Nascido na Argentina, Francisco não visita o país desde que foi escolhido para o mais alto cargo na hierarquia católica, em março de 2013, mesmo que pressionado por devotos. Ao La Stampa, ele confidenciou que considera a viagem uma “hipótese”, mas que a “organização da visita ainda não começou”.
Até o momento, o pontífice tem visitas marcadas na agenda para Bélgica, Indonésia, Timor-Leste e Papua Nova Guiné. Em entrevista anterior ao jornal italiano, em que escandalizou os fiéis mais fervorosos ao não voltar atrás na permissão de bênçãos a casais LGBTQIA+, o papa já havia expressado o desejo de encontrar com o novo presidente argentino.
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Críticas de Milei
Ainda em campanha, Milei concedeu uma entrevista ao canal americano conservador Fox News na qual destinou críticas ferozes a Francisco, o acusando de ter “afinidade com comunistas assassinos” e de violar os Dez Mandamentos por defender a “justiça social”.
Em meio à tensão, houve quem dissesse que os vínculos haviam sido rompidos sem chance de reparação. Os próprios apoiadores de Milei aderiram à ideia de “suspender as relações diplomáticas com o Vaticano enquanto o espírito totalitário prevalece à frente do Vaticano”, promovida pelo seu guru e economista ultraliberal Alberto Benegas Lynch.
O presidente, no entanto, voltou atrás. Durante debate presidencial contra Sergio Massa, ex-ministro da Economia e candidato peronista, Milei diminuiu o tom e disse que estava disposto a pedir desculpa pelas ofensas a Francisco, acrescentando que sua equipe também rejeitava a proposta de Lynch. “Quando se equivoca, se pede desculpas e acabou”, ponderou. Ele deverá, então, cumprir a promessa na ida ao Vaticano – sorte a dele que, por lá, sabe-se como perdoar as ofensas.