ONU pede US$ 738 milhões para crise de refugiados da Venezuela
É a primeira vez que o país latino-americano é incluído pela entidade no apelo anual por financiamento de ajuda humanitária
A Organização das Nações Unidas (ONU) pediu, em comunicado nesta terça-feira, 738 milhões de dólares para ajudar os países vizinhos da Venezuela a lidar com o influxo de milhões de imigrantes e refugiados que “não tem perspectiva de voltar no curto e médio prazo”.
É a primeira vez que a crise no país sul-americano foi incluída no apelo anual e global da entidade por financiamento para ajuda humanitária.
“Existe uma crise para a qual pela primeira vez nós temos um plano de resposta, que é ajudar os países vizinhos da Venezuela a lidar com as consequências do grande número de venezuelanos deixando o país”, disse o coordenador de ajuda emergencial da ONU, Mark Lowcock, em Genebra, durante a apresentação do apelo total de 21,9 bilhões de dólares para o próximo ano, sem incluir a Síria.
Ajuda emergencial
Os venezuelanos se concentram em 16 países na América Latina e Caribe, principalmente Brasil, Colômbia, Equador e Peru.
A Colômbia, que recebeu um milhão de venezuelanos, está “carregando o maior fardo entre todos”, disse Lowcock. Cerca de 3.000 cidadãos do país vizinho chegam a cada dia.
Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro culpa as sanções dos Estados Unidos e uma “guerra econômica” liderada por opositores pela crise econômica do país. O líder tem encontro marcado com o presidente russo Vladimir Putin na próxima quarta, em Moscou.
O êxodo, impulsionado pela repressão violenta, hiperinflação e racionamento de comida e medicamentos, levou a uma ajuda emergencial da ONU, de 9 milhões de dólares, anunciada na última semana para programas de saúde e nutrição dentro da Venezuela.
Questionado sobre a recepção do governo local a auxílio externo, Lowcock respondeu: “Acho que há um senso comum de que a ajuda da ONU nessas regiões pode ser de grande ajuda na redução do sofrimento dentro do país. Entramos em acordo com o governo da Venezuela sobre fortalecer nosso trabalho colaborativo e o apoio nas áreas de saúde e nutrição.”
Maduro rejeita as cifras sobre imigração da Organização, que classifica como “notícias falsas” concebidas para justificarem uma intervenção estrangeira nos assuntos da Venezuela.
85 mil no Brasil
Pelo menos 3 milhões de pessoas deixaram a Venezuela desde 2015, segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
O Brasil recebeu pouco mais de 85.000 cidadãos do país vizinho, e Roraima tornou-se a principal porta de entrada de venezuelanos no país.
Com a ajuda da Acnur e da OIM, o governo brasileiro adotou um programa mais intenso para transferir venezuelanos para outras cidades e estados do país. No final de agosto, o presidente Michel Temer assinou decreto que autoriza e facilita a ação do Exército em Roraima, como meio de prevenir novos incidentes de violência contra os imigrantes.
Segundo estudo da OIM, em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 63,5% dos menores venezuelanos no Brasil não frequentam a escola. Também foi registrado que 70% tinham acesso aos serviços de saúde, mas 60% não tinham acesso à água filtrada para beber e 45% água para cozinhar e para garantir sua higiene pessoal, mostra de que as condições sanitárias a que estão submetidos podem ser grande fonte de problemas.