ONU pede maior apoio internacional para acolhida de venezuelanos no Brasil
Representante das Nações Unidas visita o país e alerta para condições terríveis de refugiados e sobrecarga de comunidades anfitriãs
O Alto Comissário da Agência da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, apelou por maior engajamento internacional na recepção de refugiados e migrantes venezuelanos no Brasil, depois de uma visita de quatro dias pelo país na semana passada. “A solidariedade do povo brasileiro com as pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela tem sido exemplar. Mas o impacto sobre as comunidades anfitriãs em estados como Roraima e Amazonas tem sido avassalador”, disse Grandi, no domingo, 18, em Brasília.
O representante da ONU chegou no Brasil na quinta-feira, 15. Seu roteiro pelo país incluiu reuniões com o governo federal na capital e passagens por Boa Vista, em Roraima, e Manaus, no Amazonas. Uma visita a Pacaraima, principal ponto de entrada dos refugiados no Brasil, estava prevista inicialmente na agenda de Grandi, mas foi cancelada depois que as autoridades brasileiras advertiram para questões de segurança por causa de protestos marcados na cidade.
“É vital que os esforços das autoridades nos níveis federal, estadual e municipal, bem como da sociedade civil, grupos eclesiais e brasileiros em geral, sejam adequadamente apoiados pela comunidade internacional”, disse o enviado da ONU. “A população local tem estado na vanguarda da resposta às necessidades dos refugiados e migrantes venezuelanos. Eles não devem ser deixados sozinhos”, completou.
Atualmente, existem mais de 180.000 refugiados e migrantes venezuelanos no Brasil. Uma média de 500 pessoas cruzam diariamente a fronteira. Apesar das iniciativas do governo federal para interiorizar os refugiados, a grande maioria ainda se concentra no estado de Roraima, que está geograficamente isolado do resto do país e tem a menor renda per capita e poucas oportunidades econômicas.
“Em minhas visitas, foram levantadas questões importantes sobre a situação da população indígena venezuelana, as condições terríveis de muitos venezuelanos que vivem fora dos abrigos oficiais e o impacto sobre a infraestrutura e os serviços locais”, disse Grandi. “Ações urgentes são exigidas pelos governos federal e local, com o apoio da sociedade civil e do sistema das Nações Unidas, para abordar a saúde, a educação, a subsistência e outras necessidades críticas.”
O enviado na ONU se reuniu em Brasília com o secretário-geral da Presidência da República, os ministros da Casa Civil, Relações Exteriores, Justiça e Cidadania e um representante do Ministério da Defesa. Também encontrou autoridades locais e das Nações Unidas e conheceu muitas famílias venezuelanas em Brasília, Boa Vista e Manaus. Antes de chegar ao Brasil, Grandi visitou o Chile, que já recebeu mais de 400.000 refugiados e migrantes da Venezuela.
A grande maioria dos mais de 4 milhões de venezuelanos que deixaram seu país fugindo da crise instalada pelo regime de Nicolás Maduro foi recebida pelos países latino-americanos. Se a tendência atual continuar, mais de 5 milhões de refugiados e migrantes poderão estar fora da Venezuela até o final de 2019, segundo a ONU.
Um estudo recente da agência de refugiados das Nações Unidas mostra que mais da metade dos venezuelanos fora de seu país enfrentaram ou continuam enfrentando situações de risco ou vulnerabilidade por causa de sua idade, sexo, saúde ou outras necessidades. Muitos tiveram que fazer escolhas drásticas para lidar com sua situação, inclusive implorando por dinheiro nas ruas, enviando seus filhos para o trabalho ou mesmo recorrendo ao sexo como forma de sobrevivência.
Em busca de acolhimento
Todos os dias, centenas de venezuelanos cruzam a fronteira de seu país com o Brasil para fugirem do regime de Nicolás Maduro e da miséria que atinge mais de 90% da população. VEJA acompanhou a saga dessas pessoas que buscam reconstruir sua vida em nosso país.