ONU pede ‘cautela máxima’ enquanto Índia e Paquistão caminham para guerra
Declínio das relações entre os países atingiu o pior nível em anos após um ataque fatal a turistas na área indiana, na semana passada

Soldados do Paquistão e da Índia trocaram tiros nesta quinta-feira, 24, na fronteira da Caxemira, uma região dividida que é entre os dois países, mas que é reivindicada por ambos. O declínio das relações entre os vizinhos atingiu o pior nível em anos após um ataque fatal a turistas na área indiana, na semana passada. Em resposta, o governo indiano suspendeu um tratado que pode bloquear a maior parte da água usada na agricultura paquistanesa. As Nações Unidas apelaram para que os governos assumam “máxima contenção”, uma vez que a Índia se trata de uma nação com armas nucleares.
“Apelamos veementemente a ambos os governos para que exerçam a máxima contenção e garantam que a situação e os desenvolvimentos que vimos não se deteriorem ainda mais”, disse o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, a repórteres. “Acreditamos que quaisquer questões entre o Paquistão e a Índia podem e devem ser resolvidas pacificamente por meio de um envolvimento mútuo significativo.”
Três oficiais do Exército da Índia relataram à agência de notícias Reuters que soldados paquistaneses dispararam com armas de pequeno porte contra um destacamento. Sob condição de anonimato, eles disseram que o lado indiano retaliou, e que não houve vítimas. A informação foi confirmada pelo Paquistão.
“Há tiroteios de posto a posto no vale de Leepa durante a noite. Não há tiroteio contra a população civil. A vida está normal. As escolas estão abertas”, confirmou à agência de notícias AFP Syed Ashfaq Gilani, um alto funcionário do governo paquistanês no distrito do vale de Jhelum.
Trocas de ataques e farpas
Ao menos 26 turistas morreram num ataque “terrorista” de rebeldes na região da Caxemira administrada pela Índia na terça-feira 22. Os militantes abriram fogo contra um grupo que voltava das montanhas no Vale Baisaran, em Pahalgam. Um grupo que se identifica como “Resistência da Caxemira”, que a polícia acredita ser parte do Lashkar-e-Taiba, considerado terrorista por Nova Délhi, assumiu autoria do ataque e teceu críticas a um assentamento indiano de mais de 85 mil “forasteiros”.
Em retaliação, a Índia fechou a fronteira terrestre com o Paquistão, impediu a entrada de paquistaneses no país, anulou um tratado de compartilhamento de águas e acusou Islamabad de “terrorismo transfronteiriço”. Islamabad, por sua vez, definiu as ações como tentativas “frívolas” de atrelar seu governo ao ataque.
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, prometeu que “identificará, rastreará e punirá todos os terroristas e seus apoiadores”. “Nós os perseguiremos até os confins da Terra”, acrescentou.
O Exército da Índia deu início a amplas operações de “busca e destruição” para uma caçada de três suspeitos – um indiano e dois paquistaneses. A ofensiva inclui a mobilização de drones de vigilância e o aumento do efetivo de soldados no Vale Baisaran. Autoridades na Caxemira indiana também demoliram as casas de dois supostos militantes, um dos quais é acusado do ataque, segundo o jornal britânico The Guardian. Retratos falados dos suspeitos foram divulgados junto com uma recompensa de 2 milhões de rúpias (cerca de R$ 133,4 mil) por sua captura.
Uma zonas mais militarizadas do mundo, a Caxemira é reivindicada pela Índia e pelo Paquistão. Os dois países controlam, separadamente, partes da região, alvo de violência de militantes desde o início de uma rebelião anti-indiana em 1989. Em meio a conflitos rebeldes e guerras promovidas pelos Estados, dezenas de milhares de pessoas foram mortas.