ONU condena plano de Israel para desmontar sistema de ajuda humanitária a Gaza
Governo israelense afirmou que assumiria controle da repartição de suprimentos no enclave, com empresas privadas e centros de distribuição limitados

O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) condenou, nesta terça-feira, 6, o plano de Israel para desmontar o sistema de ajuda humanitária a Gaza. Na véspera, o gabinete de segurança israelense aprovou uma proposta para a “conquista” da totalidade do território palestino, que inclui o controle da distribuição de suprimentos a civis por meio de empresas privadas americanas.
“Não aceitamos uma proposta e um plano que não estejam à altura dos princípios humanitários fundamentais de imparcialidade, neutralidade e entrega independente de ajuda”, disse o porta-voz do OCHA, Jens Laerke, em Genebra.
O plano de Israel é “projetado para controlar e restringir ainda mais o fornecimento, o que é o oposto do que é necessário”, disse Laerke.
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Autoridades humanitárias avaliam que o território está à beira de uma catástrofe. Gaza enfrenta escassez de alimentos e combustível devido a um bloqueio total imposto por Israel em 2 de março.
Tel Aviv disse na segunda-feira que poderia permitir a entrada de uma quantidade limitada de suprimentos em Gaza, que seriam distribuídos a partir de um número reduzido de centros recém-construídos no sul do território, com funcionários terceirizados, mas protegidos por soldados israelenses. O plano é visto como impraticável, perigoso e potencialmente ilegal.
“A questão é que não há mais ajuda para distribuir porque a operação de ajuda foi estrangulada. Não há mais nada para dar”, continuou Laerke. “(Em Gaza), eles precisam de água, alimentos e assistência médica, mas estão recebendo bombas.”
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Plano para a “conquista” de Gaza
Na segunda-feira, o gabinete de segurança de Israel aprovou um plano para a Operação Carros de Gideão, que, segundo uma autoridade israelense, envolveria “a conquista da Faixa de Gaza e a manutenção dos territórios”. A ofensiva intensificada envolveria o deslocamento da “maioria” de seus moradores e uma ocupação militar por tempo indeterminado.
Effie Defrin, principal porta-voz militar do país, afirmou que a ofensiva incluiria “a transferência da maior parte da população de Gaza para protegê-la”. Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro israelense, afirmou que “a população será transferida para sua própria proteção” em um vídeo publicado nas redes sociais, sem dar detalhes da operação.
Nas últimas semanas, soldados israelenses reforçaram “zonas de proteção” com quilômetros de profundidade ao longo do perímetro da Faixa de Gaza e expandiram seu controle sobre grande parte do norte e do sul do território. Ao todo, mais de 70% do enclave está sob controle de Israel ou sob ordens emitidas pelo governo do país, exigindo que civis esvaziem bairros específicos.
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Quase todos os 2,3 milhões de habitantes de Gaza foram deslocados seguidamente desde o início da guerra, desencadeada pelo ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, no qual militantes mataram cerca de 1.200 pessoas, a maioria civis, e sequestraram outras 250. Mais de 52 mil palestinos foram mortos desde então. Um cessar-fogo de dois meses ruiu em meados de março, quando Tel Aviv se negou a implementar uma segunda fase em meio a impasses nas negociações.
A perspectiva de uma nova e intensificada ofensiva israelense gerou profunda preocupação internacional. Jean-Noël Barrot, ministro das Relações Exteriores da França, chamou o plano israelense de “inaceitável” durante entrevista à rádio nesta terça-feira, e declarou que o governo do país está “violando o direito humanitário”.
Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores britânico afirmou que o Reino Unido não apoia a expansão das operações israelenses em Gaza, enquanto António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, se disse “alarmado” com um plano que “levará inevitavelmente à morte de inúmeros civis e à destruição de Gaza”.