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ONU ameaça encerrar ajuda humanitária por ‘apartheid’ contra rohingyas

Nações Unidas denunciam condição sub-humana em que muçulmanos vêm vivendo em campos de refugiados na fronteira com Bangladesh

Por Da Redação
Atualizado em 17 jun 2019, 11h41 - Publicado em 17 jun 2019, 11h36

As Nações Unidas afirmaram ao governo de Mianmar que deixarão de enviar ajuda humanitária ao país para evitar cumplicidade na “política de apartheid” aplicada contra os muçulmanos rohingyas, segundo o jornal britânico The Guardian.

Em uma carta enviada ao ministro de Bem-Estar Social, a ONU afirma que todas as doações que não foram consideradas essenciais para salvar vidas não serão mais encaminhadas aos campos de refugiados, ao menos que alguma mudança substancial ocorra.

As agências das Nações Unidas vêm prestando assistência contínua aos rohingyas vivendo no estado de Rakhine, na fronteira com Bangladesh. Os campos locais abrigam mais de 128.000 pessoas da etnia mulçumana, deslocadas após os conflitos na região.

O Guardian teve acesso à carta. Na mensagem, datada de 6 de junho, o coordenador das Nações Unidas em Mianmar, Knut Ostby, afirma que a assistência humanitária só será prestada quando os rohingyas tiveram sua “liberdade de ir e vir” garantida e o governo local acabar com suas políticas de “segregação”.

Em 2017, o governo de Mianmar afirmou ter iniciado um projeto para fechar todos os campos de refugiados na região da fronteira. Porém, os locais continuam funcionado e os deslocados vivem em condições sub-humanas e sem liberdade de deslocamento, segundo a ONU.

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As autoridades locais também concordaram em seguir um plano proposto pelo ex-secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, que previa a “repatriação voluntária” dos refugiados que tentaram fugir para Bangladesh. Até agora, contudo, nada foi feito para concluir esse objetivo.

Imagens do dia - Refugiados rohingya
Jovens muçulmanos rohingyas ficam atrás de uma barricada de bambu para coletar comida cozida no campo de refugiados de Thankhali, no distrito de Ukhia, em Bangladesh – 10/11/2017 (Dibyangshu Sarkar/AFP)

A carta enviada ao ministro Win Myat Aye denuncia que os rohingyas vivendo nos campos que deveriam ter sido fechados e em campos recém-construídos ainda estão sob as mesmas condições, sem acesso a “serviços básicos” ou “oportunidades de subsistência”.

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Até a localização dos campos permaneceu praticamente inalterada, de acordo com o Guardian.

Segundo uma fonte da ONU que falou ao jornal britânico sob condição de anonimato, o governo de Mianmar planeja construir moradias permanentes para os rohingyas nas áreas próximas aos campos. A prática “deixa muito claro que a separação que segue o modelo do apartheid será permanente”, afirma.

A crise

Desde agosto de 2017, centenas de milhares de pessoas da minoria muçulmana fugiram da destruição de suas casas e violência de militares e budistas em Rahkine, no que a ONU descreveu como “um exemplo literal de limpeza étnica”. O Exército nega combater civis e diz que ataca somente militantes da causa rohingya.

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Por serem considerados estrangeiros, há décadas o grupo de confissão muçulmana vem sendo discriminado pelas autoridades birmanesas. Seus direitos foram paulatinamente extirpados, e as perseguições, incitadas por monges budistas radicais, tornaram-se cada vez mais frequentes e violentas.

Atualmente, os rohingyas no país não podem casar, ter filhos, estudar, sair da cidade onde moram ou utilizar hospitais e transportes públicos sem autorizações especiais, que raramente são obtidas sem suborno, extorsão ou trabalhos degradantes. Os homens da etnia são também obrigados a realizar trabalhos forçados ao longo de um mês por ano em diversas regiões do país.

Bangladesh acomoda hoje mais de 700.000 rohingyas, do total de 1 milhão que vivia no norte do Estado de Rakhine. A onda de violência na região desencadeou um massacre sem precedentes.

Durante semanas, tropas militares e grupos de civis armados, recrutados entre a metade budista do estado, mataram milhares de rohingyas a tiros, facadas e em fogueiras, estupraram mulheres, espancaram crianças e incendiaram vilarejos. Não há contagem segura de vítimas – a organização não-governamental Médicos sem Fronteira calcula em quase 7.000.

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