ONU acusa Israel de transformar ‘alimentos em armas’ e cometer ‘crime de guerra’ em Gaza
Aumento das críticas ocorre em meio a incidentes recorrentes nos quais as forças israelenses abriram fogo perto de centros da Fundação Humanitária de Gaza

As Nações Unidas condenaram nesta terça-feira, 24, a “transformação de alimentos em armas” por Israel na Faixa de Gaza, o que definiram como um “crime de guerra”. O aumento do furor das críticas da ONU ocorre em meio a incidentes recorrentes nos quais as forças israelenses abriram fogo perto de centros de distribuição de ajuda da Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), deixando centenas de mortos. O grupo privado é apoiado pelos Estados Unidos e Israel, mas desaprovado pela ONU por sua ineficácia.
“O mecanismo militarizado de assistência humanitária de Israel (em referência à GHF) está em contradição com os padrões internacionais de distribuição de ajuda”, disse o porta-voz do escritório de direitos humanos das Nações Unidas, Thameen Al-Kheetan. “A transformação de alimentos para civis em armas, além de restringir ou impedir seu acesso a serviços de suporte à vida, constitui um crime de guerra.”
Em Genebra, Al-Kheetan lamentou as “cenas de caos ao redor dos pontos de distribuição de alimentos” e destacou que “pessoas desesperadas e famintas em Gaza continuam enfrentando a escolha desumana de morrer de fome ou correr o risco de serem mortas enquanto tentam conseguir comida”.
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Situação ‘catastrófica’ em Gaza
O porta-voz da ONU também denunciou que “os militares israelenses bombardearam e atiraram em palestinos que tentavam chegar aos pontos de distribuição, causando muitas mortes”. Ele disse que, até o momento, “mais de 410 palestinos foram mortos como resultado, (enquanto) pelo menos outros 93 também foram supostamente mortos pelo exército israelense enquanto tentavam se aproximar dos poucos comboios de ajuda da ONU e de outras organizações humanitárias“.
“Pelo menos 3.000 palestinos ficaram feridos nesses incidentes”, informou Al-Kheetan. “Cada um desses assassinatos deve ser investigado de forma rápida e imparcial, e os responsáveis devem ser responsabilizados.”
Além disso, Al-Kheetan criticou as operações da GHF e afirmou que “coloca civis em perigo e contribui para a situação humanitária catastrófica em Gaza”. A população da Faixa de Gaza, composta por 2,3 milhões de pessoas antes da guerra, está em “risco crítico” de fome e enfrenta “níveis extremos de insegurança alimentar”, apontou um relatório em maio da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), apoiada por agências das Nações Unidas, grupos de ajuda e governos.
“A assistência humanitária nunca deve ser usada como moeda de troca em nenhum conflito”, frisou o funcionário da ONU.
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UNRWA x GHF
Em comentários separados, o chefe da agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA), Philippe Lazzarini, disse que a GHF é “uma abominação que humilha e degrada pessoas desesperadas”. Ele também instou Israel a interromper o bloqueio parcial à entrada de ajuda humanitária em Gaza e que desse prioridade a agências que têm “experiência”.
“A comunidade humanitária, incluindo a UNRWA, tem a experiência e deve ter permissão para fazer seu trabalho e fornecer assistência com respeito e dignidade”, apelou ele. “Não há outra alternativa para enfrentar os desafios da disseminação da fome na Faixa de Gaza.”
Em outubro do ano passada, o Parlamento de Israel, o Knesset, aprovou uma lei que proíbe a atuação da UNRWA. Na ocasião, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que os trabalhadores da UNRWA devem ser responsabilizados pelo que chamou de “atividades terroristas” contra o país. A agência emprega dezenas de milhares de trabalhadores e fornece educação, saúde e ajuda a milhões de palestinos em Gaza, Cisjordânia, Jordânia, Líbano e Síria.