ONGs cobram que atleta condenado por estupro seja banido de Paris 2024
Ex-nadadora Joanna Maranhão, coordenadora da Athletes Network for Safer Sports, ressaltou que "ser um atleta olímpico é um privilégio, e não um direito"

Organizações internacionais de defesa de atletas vítimas de violência se posicionaram nos últimos dias contra a decisão do Comitê Olímpico da Holanda e do Comitê Olímpico Internacional de permitir que Steven van de Velde, de 29 anos, represente a Holanda nas disputas de vôlei de praia nos Jogos Olímpicos de Paris. O atleta foi condenado a quatro anos de prisão em 2014 por estuprar uma menina de 12 anos e foi solto em 2017.
Em nota conjunta, publicada na sexta-feira, 5, as organizações The Sport & Rights Alliance, Athletes Network for Safer Sports, The Army of Survivors e Kyniska Advocacy afirmaram que “a presença de Van de Velde na equipe olímpica holandesa desrespeita e invalida completamente a vítima de seus crimes” e que “envia uma mensagem a todos de que a proeza esportiva supera o crime”.
A ex-nadadora olímpica brasileira Joanna Maranhão, coordenadora da Athletes Network for Safer Sports e primeira mulher a assumir a Presidência do Conselho de Ética do Comitê Olímpico do Brasil, em 2023, ressaltou que “ser um atleta olímpico é um privilégio, e não um direito”.
“Os atletas que competem no nível de prestígio dos Jogos Olímpicos são frequentemente vistos como heróis e modelos – Van de Velde não deveria receber esta honra”, afirmou a ex-atleta. “Em contraste com o que os especialistas holandeses argumentam sobre o baixo risco de reincidência, a sua qualificação para os Jogos também deve ser examinada através de uma lente moral”.
O sistema olímpico não possui verificações de antecedentes de ofensas sexuais cometidas por líderes de governança esportiva, treinadores ou atletas. Em comunicado, o COI ressaltou também que a nomeação de atletas é responsabilidade exclusiva de cada comitê nacional.
“Ter um estuprador condenado representando seu país no cenário global não só vai totalmente contra os ideais e compromissos olímpicos, mas também abala a visão do COI de construir ‘um mundo melhor através do esporte’”, disse Mhairi Maclennan, ex-corredora e CEO da Kyniska Advocacy.
“Totalmente reintegrado”
Em resposta às amplas críticas, o diretor da Federação Holandesa de Vôlei, Michel Everaert, afirmou que “nós sabemos da história de Steven”, mas que ele está “totalmente reintegrado à comunidade do vôlei”. Van de Velde cumpriu parte de sua pena na Inglaterra, onde cometeu o crime, antes de ser transferido para a Holanda. Ele foi solto em 2017 e voltou a jogar no mesmo ano.
Comitê Olímpico Holandês disseram em um comunicado que apoiam Van de Velde, acrescentando que, junto com a FIVB, consultaram especialistas que consideraram a chance de reincidência “nula”.
“Após sua condenação e sentença, Steven van de Velde retornou ao alto nível do esporte, degrau a degrau, sob a orientação de especialistas em liberdade condicional e coaching, entre outros. Ele vem participando de torneios internacionais de volta desde 2017”, afirmou a federação holandesa.
Segundo o Comitê Olímpico Holandês, Van de Velde voltou a esporte profissional com base em diretrizes que estabelecem, entre outras coisas, “condições para que atletas do esporte de alto nível possam regressar após uma condenação”.
“Van de Velde agora atende a todos os requisitos de qualificação para os Jogos Olímpicos e, portanto, faz parte da equipe”, disse o comitê.