O ultimato de Trump a Maduro para deixar poder da Venezuela, segundo jornal
Alerta ocorre em meio à escalada das tensões entre Washington e Caracas, reflexo do envio de forças americanas ao Caribe em suposto cerco ao narcotráfico
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu um ultimato ao seu homólogo da Venezuela, Nicolás Maduro, para que deixasse o país caribenho durante um telefonema, informou o jornal americano Miami Herald nesta segunda-feira, 1°. A conversa, segundo o jornal americano The New York Times, ocorreu na semana passada. A bordo do Air Force One, Trump confirmou a ligação neste domingo, 31, mas não deu detalhes sobre o que foi discutindo, atendo-se a dizer: “Não diria que correu bem nem mal. Foi uma chamada telefônica.”
O recado teria sido claro: Maduro, sua família e aliados poderiam fugir desde que o fizessem imediatamente, afirmaram duas fontes familiarizadas com o assunto, sob condição de anonimato, ao Miami Herald. A proposta teria como objetivo estabelecer um governo democrático em Caracas. A discussão, contudo, logo chegou a um impasse incontornável. O líder chavista e assessores teriam concordado em entregar o controle político à oposição, mas que mantivessem o comando das Forças Armadas — um “não” para os EUA.
“Primeiro, Maduro pediu anistia global por quaisquer crimes que ele e seu grupo tivessem cometido, e isso foi rejeitado”, disse uma das fontes. “Segundo, eles pediram para manter o controle das forças armadas — semelhante ao que aconteceu na Nicarágua em 1991 com Violeta Chamorro. Em troca, permitiriam eleições livres.”
Após as duas negativas americanas, Maduro foi pressionado a abandonar o poder de imediato, algo que o governo venezuelano rejeitou. Após o telefonema, não houve qualquer forma de contato direto entre Washington e Caracas, de acordo com Miami Herald. Na semana passada, os EUA designaram o Cartel de los Soles — que, segundo a Casa Branca, é liderado por Maduro — como uma organização terrorista estrangeira. Trump também afirmou que a rotulação daria sinal verde ao governo para atacar bens e infraestruturas do regime chavista.
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Espaço aéreo fechado
Em paralelo, o presidente dos EUA emitiu uma orientação na Truth Social, rede social da qual é dono, para que “todas as companhias aéreas, pilotos, traficantes de drogas e traficantes de pessoas, considerem o FECHAMENTO TOTAL DO ESPAÇO AÉREO SOBRE E AO REDOR DA VENEZUELA”. O alerta ocorreu poucos dias após a Venezuela revogar os direitos de operação de seis grandes companhias aéreas internacionais por não terem cumprido o prazo de 48 horas para retomarem os voos no país.
A decisão das empresas de não sobrevoar o território venezuelano segue uma orientação da Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos, emitida na semana anterior, para que os aviões evitassem a rota devido ao “agravamento da situação de segurança e ao aumento da atividade militar dentro e nos arredores” do país caribenho.
Em comunicado, Caracas afirmou que as companhias aéreas “se uniram às ações de terrorismo de Estado promovidas pelos Estados Unidos” ao suspenderem “unilateralmente” os voos comerciais. Entre as banidas, estão Iberia, TAP, Avianca, Latam Colombia, Turkish Airlines e Gol. Em contrapartida, embora também tenham interrompido voos, Air Europa e a Plus Ultra continuam com as suas licenças. As companhias internacionais Copa e Wingo, por sua vez, continuam operando na Venezuela, além das operadoras domésticas.
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Tensão no Caribe
No final de outubro, o líder americano revelou que havia autorizado a CIA a conduzir operações secretas dentro da Venezuela, aumentando as especulações em Caracas de que Washington quer derrubar Maduro. Fontes próximas à Casa Branca afirmam que o Pentágono apresentou a Trump diferentes opções, incluindo ataques a instalações militares venezuelanas — como pistas de pouso — sob a justificativa de vínculos entre setores das Forças Armadas e o narcotráfico.
Os EUA acusam Maduro de liderar o Cartel de los Soles e oferecem uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à captura do chefe do regime chavista. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, também foi acusado por Trump de ser “líder do tráfico de drogas” e “bandido”. Em paralelo, intensificam-se os ataques a barcos de Organizações Terroristas Designadas, como define o governo americano, no Caribe e Pacífico.
Há poucas semanas, militares americanos de alto escalão apresentaram opções de operações contra Caracas a Trump. O secretário de Defesa, Pete Hegseth, o chefe do Estado-Maior Conjunto, Dan Caine, e outros oficiais entregaram planos atualizados, que incluíam ataques por terra. Segundo a emissora CBS News, a comunidade de Inteligência dos EUA contribuiu com o fornecimento de informações para as possíveis ofensivas na Venezuela, que variam em intensidade.
O planejamento militar ocorre em meio à crescente mobilização militar americana na América Latina e ao aumento das expectativas de uma possível ampliação das operações na região, em atos considerados como “execuções extrajudiciais” pela Organização das Nações Unidas (ONU). Além do porta-aviões, destróieres com mísseis guiados, caças F-35, um submarino nuclear e cerca de 6.500 soldados foram despachados para o Caribe, enquanto Trump intensifica o jogo de quem pisca primeiro com o governo venezuelano.
Os incidentes geraram alarme entre alguns juristas e legisladores democratas, que denunciaram os casos como violações do direito internacional. Em contrapartida, Trump argumentou que os EUA já estão envolvidos em uma guerra com grupos narcoterroristas da Venezuela, o que torna os ataques legítimos. Autoridades afirmaram ainda que disparos letais são necessários porque ações tradicionais para prender os tripulantes e apreender as cargas ilícitas falharam em conter o fluxo de narcóticos em direção ao país.
Dados das Nações Unidas enfraquecem o discurso de caça às drogas. O Relatório Mundial sobre Drogas de 2025 indica que o fentanil — principal responsável pelas overdoses nos EUA — tem origem no México, e não na Venezuela, que praticamente não participa da produção ou do contrabando do opioide para o país. O documento também aponta que as drogas mais usadas pelos americanos não têm origem na Venezuela — a cocaína, por exemplo, é consumida por cerca de 2% da população e vem majoritariamente de Colômbia, Bolívia e Peru.
Uma pesquisa Reuters/Ipsos divulgada na última sexta-feira, 14, revelou que apenas 29% dos americanos apoiam o uso das Forças Armadas dos Estados Unidos para matar suspeitos de narcotráfico, sem o devido processo judicial, uma crítica às ações de Trump. Em um sinal de divisão entre os apoiadores do presidente, 27% dos republicanos entrevistados se opuseram à prática, enquanto 58% a apoiaram e o restante não tinha opinião formada. No Partido Democrata, cerca de 75% dos eleitores são contra as operações, e 10% a favor.
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