O resgate dramático de alpinistas após avalanche inesperada no Everest
O susto, para além da imagem de gelar a espinha, é um novo alerta a um pedaço da Terra sempre muito sonhado, mas inatingível para o comum dos mortais

Parecia cena de filme catástrofe, e, como o desfecho não tinha sido anunciado até a quarta-feira 8, a tensão embebida de medo tingia a neve do Monte Everest. No dia 4, época do ano muito procurada pelos aventureiros, dado o céu azul, uma avalanche inesperada lambeu a porção do lado tibetano da mítica montanha. Cerca de 350 pessoas foram resgatadas a cerca de 4 900 metros de altitude e levadas para um lugar seguro — outras 200, contudo, presas pelo mau tempo, em canto de difícil alcance, aguardavam ajuda. Nos trabalhos feitos por socorristas e por moradores da vizinhança foram usados cavalos aptos a porções íngremes. Explica-se a multidão: a face norte é considerada de acesso tranquilo e pode ser iniciada a partir de estrada pavimentada. Há vinte anos, o lado do Tibete recebia um número menor de visitantes do que o lado nepalês, mas agora o fluxo é de mais de meio milhão de visitantes por ano — a grande maioria da China. O episódio recente forçou as autoridades a interromper a venda de ingressos. O susto, para além da imagem incômoda, de gelar a espinha, é um novo alerta a um pedaço da Terra sempre muito sonhado, mas inatingível para o comum dos mortais. O Everest, ensinaram os pioneiros, pede respeito. Já não vale fazer como o britânico George Mallory, que, em 1924, ao iniciar a expedição da qual não retornaria, respondeu com ironia, instado a dizer por que encarar o pico: “Porque está lá”, disse. Continua por lá, mas não se deve brincar com a natureza.
Publicado em VEJA de 10 de outubro de 2025, edição nº 2965