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“O rei tem humor”, diz Jonathan Yeo, pintor do retrato de Charles III

O britânico de 53 anos recebeu uma saraivada de críticas, mas conta que Camilla adorou a obra e que agora quer ter Kate e Lula como modelos

Por Paula Freitas 8 jun 2024, 08h00

O quadro em que o senhor retrata Charles III foi alvo de críticas, sobretudo pelo excesso de vermelho, comparado pejorativamente ao “sangue colonial” e até ao “Tampax de Camilla”. Isso o abalou? Esses comentários são engraçados, não levei para o pessoal. As pessoas espelham o que sentem na arte. Se odeiam a monarquia, tendem a enxergar a obra de forma negativa. O vermelho é a cor do uniforme militar do rei, daí ter decidido abusar dele, para além do traje. O que está lá é o meu estilo. Não faria sentido dar ares de passado à tela, fazendo o mesmo retrato clássico de sempre.

O rei ficou surpreso? Ao ver o resultado final, sim, mas gostou. Ele já conhecia o meu trabalho. Tinha pintado a Camilla, hoje rainha, em 2014.

Ao longo do processo, que durou dois anos, Charles passou de príncipe a rei. Como foi acompanhar essa transformação? Ele mudou de postura, ficou mais formal e altivo. Acho que consegui captar essa nuance, incluindo na obra uma borboleta sobre seu ombro. É uma referência ao meio ambiente, assunto que ele tanto preza, e também à metamorfose pela qual passou. Mas garanto: Charles segue gentil, curioso e com um humor afiado.

Em fevereiro, o rei anunciou que está com câncer. Ele deu algum sinal de mal-estar no encontro que tiveram logo antes? Nenhum. Pelo contrário, passava horas em pé. É praxe que os modelos se sentem durante as sessões. O rei não quis. E ainda ficava me fazendo o tempo todo perguntas sobre arte. Aliás, não acho que esteja fisicamente abatido agora.

Algum membro da realeza lhe deu retorno sobre o retrato? Camilla o viu quando estava quase pronto e disse: “Você o pegou!”. Receber um elogio da própria esposa, que é quem mais o conhece, foi um alívio. A maior complexidade do meu trabalho é justamente transmitir nas pinceladas quem a pessoa realmente é. E, com figuras públicas, o desafio cresce. Não poderia deixar de projetar a imagem que o mundo tem dele. Seria um fracasso.

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Há planos de retratar outros integrantes da família real? Por ora, não. Adoraria pintar Kate, a princesa de Gales. Ainda não fizeram uma boa pintura dela. Mas o projeto terá de esperar, já que está no meio do tratamento contra um câncer.

Além de Nicole Kidman e outras celebridades, políticos como o ex-­primeiro-ministro britânico Tony Blair já posaram para o senhor. Pintaria o presidente Lula? Seria um prazer. Conhecer o Brasil está nos planos. Há excelentes artistas por aí, como osgemeos, mestres do grafite. Pintar Lula seria uma boa oportunidade para decifrar o país.

Publicado em VEJA de 7 de junho de 2024, edição nº 2896

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