O rap pelos termos de Vladimir Putin
O presidente russo defende o controle do gênero, que tem sofrido com represálias e cancelamentos, pelo governo de seu país

Em seus primeiros anos, o rap era uma fonte de informação e protesto tão grande que foi apelido de a CNN do povo negro. Vladimir Putin, contudo, enxerga o gênero americano como uma ferramenta que pode levar seu povo à degradação. No sábado passado, o presidente russo declarou que o governo de seu país tem de tomar o controle do rap ao invés de simplesmente proibi-lo. O pronunciamento se deu num momento complicado para os versejadores da terra de Dostoiévski, cujas apresentações têm sido canceladas por causa do teor de protesto de suas letras. Um deles, Husky, foi preso por vandalismo porque, ao não concordar com um desses cancelamentos (na cidade de Krasnodar, sul da Rússia), subiu no topo de um carro e proferiu suas rimas no meio da rua . Como elas são contrárias ao atual presidente, Husky foi sentenciado a doze dias de prisão e recebeu a solidariedade de outros nomes do hip hop, como o Oxxxymoron. O clamor popular fez com que Husky fosse libertado antes de cumprir a sentença.
Há pelo menos duas particularidades do universo do hip hop que preocupam Putin. A primeira é que, segundo ele, o gênero se apoia em três pilares: sexo, drogas e protesto. Desses, as drogas são o que mais angustiam o político: são elas o ponto de partida para a decadência do país. Outro problema está no conteúdo explícito das letras desse gênero. Ele chegou a consultar uma especialista em linguística, que disse que as palavras fortes e xingamentos fazem parte da cultura russa.
A manipulação do universo musical pelo governo russo data desde os primeiros anos do comunismo. O compositor Dmitri Shostakovich entrou na mira de Josef Stalin duas vezes – por causa do teor de protesto da ópera Lady Macbeth de Mtsensk e por usar em suas composições elementos a música ocidental (que Stalin considerava “degenerada”). Vladimir Putin não tem fugido à regra. Seu governo é marcado por perseguições a artistas do universo do rock e do pop. O caso mais famoso é o das rappers e ativistas Pussy Riot, cujo repertório musical é claramente contra o atual presidente russo.