O que faz Bangladesh ficar à frente e ser o ‘país do ano’, segundo The Economist
Síria, Argentina, Polônia e África do Sul completam o top 5 da publicação inglesa

Todo mês de dezembro, a publicação inglesa The Economist elege o “País do Ano”, premiando aquele que mais avançou em termos políticos e sociais nos últimos 12 meses. Em 2024, Bangladesh foi escolhido, não por ser o mais rico ou feliz, mas por ter dado passos significativos em sua governança. A virada de chave aconteceu em agosto, quando protestos liderados por estudantes forçaram a renúncia de Sheikh Hasina, que governava autoritariamente há 15 anos. A Síria, Argentina, Polônia e África do Sul completam o top 5 da publicação.
“Por derrubar um déspota e dar passos largos em direção a um governo mais liberal, Bangladesh é o nosso País do Ano”, destacou a revista.
A trajetória de Sheikh Hasina foi marcada por fraudes e violência. Após presidir um rápido crescimento econômico, ela “tornou-se repressora”, segundo a revista. Além de prender opositores e ordenar que as forças de segurança do país atirassem em manifestantes, há registros de fraudes nas eleições para que Sheikh Hasina permanecesse no poder.
O prêmio não reconhece apenas a remoção de um regime autoritário, mas também a tentativa do país de caminhar em direção a um futuro mais democrático e inclusivo, apesar dos desafios que ainda enfrenta. Muhammad Yunus, Nobel da Paz, lidera um governo tecnocrático interino. Ao contrário de sua antecessora, Yunus tem o apoio dos estudantes, do Exército, de empresas e da sociedade civil.
O novo governo, no entanto, não terá vida fácil. Bangladesh já estava enfrentando uma série de desafios econômicos antes das agitações civis, incluindo uma fase prolongada de alta pressão inflacionária desde 2022. A taxa de inflação atingiu uma alta de 12 anos de 11,66% em julho, com a inflação de alimentos atingindo um recorde de 14,1%.
O crescimento lento na criação de empregos e no desemprego, especialmente entre jovens educados, também é um problema. Cerca de 40% dos cidadãos de Bangladesh com idade entre 15 e 24 anos são atualmente classificados como pessoas que não estudam, trabalham ou recebem treinamentos, quase o dobro da média global.
As reservas de câmbio estrangeiro caíram drasticamente, de US$ 48 bilhões (£ 36,6 bilhões) em agosto de 2021 para pouco mais de US$ 18 bilhões (£ 13,8 bilhões) em maio de 2024. O nível atual de reservas mal atinge o parâmetro mínimo definido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para que os países liquidem os pagamentos de importação.
Em 2024, também se destacaram outros países que vivenciaram transformações significativas. A Síria ficou em segundo lugar, com a queda de Bashar al-Assad, encerrando 50 anos de ditadura e 13 anos de guerra civil. Na Polônia, o governo de Donald Tusk tenta restaurar as instituições após os danos causados pelo seu antecessor Viktor Orbán. A África do Sul também teve seu momento, com o Congresso Nacional Africano perdendo a maioria pela primeira vez, formando uma nova coalizão com a Aliança Democrática. A Argentina foi outra protagonista, com as reformas radicais de livre mercado implementadas por Javier Milei, que trouxeram resultados positivos para a economia.