O que é lei marcial, promulgada na Coreia do Sul contra ‘forças comunistas’
Presidente sul-coreano declarou medida que substitui a legislação normal por leis militares em situações de emergência, guerra ou conflito armado
O presidente sul-coreano, Yoon Suk–yeol, promulgou lei marcial no país nesta terça-feira, 3, contra “forças comunistas” da Coreia do Norte e “atividades antiestatais”. Trata-se de uma regra temporária imposta por autoridades em situações de emergência que substitui a legislação normal por leis militares (o termo entrou no topo da lista de assuntos mais pesquisados pelos brasileiros no Google Trends nesta terça, 3)
Descrita no Artigo 77 da Constituição da Coreia do Sul, a lei marcial pode ser declarada pelo presidente do país “quando for necessário enfrentar uma exigência militar ou manter a segurança e a ordem pública pela mobilização das Forças Armadas em tempos de guerra, conflito armado ou emergência nacional semelhante”.
A implementação da medida pode ter impactos legais, como a suspensão de direitos civis e a extensão da lei militar. Na prática, a população fica sujeita a uma série de regras mais rígidas até que a ordem seja restabelecida.
A medida pode ser extraordinária ou preventiva. No primeiro caso, podem ser adotadas regras especiais relacionadas aos poderes do Executivo e do Judiciário, à liberdade de expressão, imprensa e outras questões, de acordo com a descrição da lei.
Em teoria, a lei marcial é temporária, mas ela pode ser prorrogada por tempo indeterminado.
De acordo com a Constituição sul-coreana, a medida pode ser suspensa por meio da solicitação da Assembleia Nacional do país, por meio de uma votação. Se a maioria dos deputados votar contra a implementação da lei, o presidente do país deverá respeitar a decisão.
A última vez que a lei marcial foi declarada na Coreia do Sul foi em 1979, após o assassinato do então ditador Park Chung-hee.
Declaração da lei
Em um pronunciamento não programado em rede nacional, Yoon declarou lei marcial de emergência no país, acusando a oposição de conduzir “atividades antiestatais” e citando a ameaça da Coreia do Norte.
“Para proteger uma Coreia do Sul liberal das ameaças representadas pelas forças comunistas da Coreia do Norte e eliminar elementos antiestatais, declaro lei marcial de emergência”, disse Yoon. “Essa é uma medida inevitável para garantir a liberdade e a segurança do povo e garantir a sustentabilidade da nação contra a agitação provocada por esses elementos subversivos e antiestatais.”
O chefe da polícia sul-coreana criticou a implementação da lei marcial e convocou uma reunião de emergência na terça-feira para debater a medida, que não foi bem recebida inclusive por membros do partido de Yoon, o conservador Partido do Poder Popular.
O presidente sul-coreano justificou que a medida é necessária para “garantir a liberdade e a segurança do povo” e “reconstruir um país livre e democrático”.
Desde que assumiu o cargo, em 2022, Yoon tem lutado para impor suas agendas contra um Parlamento controlado pela oposição. Antes do anúncio, o Partido do Poder Popular estava preso em um impasse com o Partido Democrata sobre o projeto de lei do orçamento do próximo ano.
Yoon também tem rejeitado pedidos de investigações independentes sobre escândalos envolvendo sua esposa e altos funcionários, atraindo críticas duras de seus rivais políticos.
Reação na Coreia do Sul
Após a declaração de Yoon, uma multidão se reuniu do lado de fora do prédio da Assembleia Nacional, em Seul, para se manifestar contra a implementação da lei marcial.
Dentro da Assembleia, uma transmissão ao vivo da agência de notícias sul-coreana Yonhap mostrou uma aglomeração de pessoas, incluindo cerca de 70 membros da oposição.
O comandante da lei marcial, General Park An-soo, anunciou a proibição de todas as atividades políticas, “incluindo as da Assembleia Nacional, conselhos locais, partidos políticos e associações políticas, bem como assembleias e manifestações”.
O presidente da Assembleia Nacional, Woo Won-shik, pediu calma e convocou todos os parlamentares a “se reunirem no salão principal da assembleia imediatamente.”