O pacificador: Trump promete ampliar comércio com Índia e Paquistão após cessar-fogo
O presidente Donald Trump celebrou a trégua entre os países e disse estar orgulhoso pelos EUA ter “ajudado a chegarem à esta decisão histórica”

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou neste domingo, 11, que pretende aumentar o comércio com Índia e Paquistão após o anúncio de um cessar-fogo na região da Caxemira, disputada historicamente entre os dois países do sul da Ásia. A declaração foi feita em sua rede social Truth, em tom celebratório, e marca mais um episódio na estratégia de Trump de se apresentar como mediador de conflitos internacionais — imagem que o republicano tem cultivado também em relação à guerra na Ucrânia.
“Estou orgulhoso que os Estados Unidos possam ter ajudado a chegarem à esta decisão histórica”, escreveu Trump, referindo-se à trégua entre os dois vizinhos armados nuclearmente. “Mesmo que não tenha sido discutido, vou aumentar o comércio com essas duas grandes nações”, acrescentou, em referência a Índia e Paquistão.
O anúncio ocorre em meio à recente escalada militar na Caxemira, que desde o fim de abril registrou uma série de confrontos e trocas de disparos ao longo da Linha de Controle (LoC), a fronteira de fato entre os dois países na região montanhosa. Os episódios de violência começaram após um ataque com explosivos no dia 22 de abril na cidade de Sopore, na Caxemira administrada pela Índia, que deixou 26 mortos. O governo indiano responsabiliza grupos terroristas paquistaneses. A capital paquistanesa, Islamabad, nega envolvimento com a ação.
Nas semanas seguintes, Índia e Paquistão trocaram bombardeios que causaram dezenas de feridos e forçaram a evacuação de civis. Apesar do anúncio de cessar-fogo feito neste fim de semana, os dois lados relataram novos episódios de tiros e artilharia neste domingo. O Ministério das Relações Exteriores da Índia informou que um comandante das forças armadas paquistanesas entrou em contato com um oficial indiano e que está prevista uma reunião militar bilateral na segunda-feira, 12, para tratar da trégua.
O conflito por Caxemira remonta a 1947, quando a antiga colônia britânica foi dividida entre Índia e Paquistão. Desde então, os dois países travaram três guerras — duas delas diretamente ligadas à disputa territorial — e mantêm uma presença militar contínua na região. Os dois lados reivindicam o território em sua totalidade. A Índia administra cerca de dois terços da região, enquanto o restante está sob controle paquistanês. O risco de uma escalada mais grave preocupa a comunidade internacional, especialmente diante do arsenal nuclear de ambos os países. Segundo estimativas do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri), Índia e Paquistão possuem juntos mais de 340 ogivas nucleares.
A intervenção retórica de Trump na crise entre Nova Delhi e Islamabad ocorre em paralelo aos esforços que o republicano tem feito para mediar outro conflito geopolítico de grande escala: a guerra na Ucrânia. Nos últimos meses desde que retornou à Casa Branca, Trump buscou se colocar como um dos principais interlocutores entre Moscou e Kiev. Em contraste com a retórica agressiva de sua política tarifária e guerra comercial, o presidente usa, por outro lado, uma retórica de mediador, colocando os EUA como o país capaz de “restabelecer a ordem global”. A movimentação parece parte de uma estratégia mais ampla para reposicionar os Estados Unidos como força pacificadora no cenário internacional — justamente em um momento em que o país vê sua hegemonia comercial ser desafiada pelo avanço da China.
No caso do sul da Ásia, os ganhos comerciais também fazem parte da equação. A Índia é o décimo maior parceiro comercial dos Estados Unidos, com trocas bilaterais que superaram US$ 130 bilhões em 2024. Trump não apresentou detalhes sobre como pretende aumentar essas relações, nem se as medidas envolveriam cortes tarifários ou novos acordos bilaterais. Não houve, até o momento, menção oficial do Departamento de Estado sobre mediação ativa por parte de Washington.