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O Maquiavel da era moderna: a ascensão do pensador Giuliano Da Empoli

Primeiros-ministros e presidentes europeus têm bebido de suas ideias para conhecer a si mesmo e a seus pares

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 26 out 2025, 08h00

O escritor e analista político ítalo-suíço Giuliano Da Empoli não se incomoda com a comparação e leva na boa, de verdade, o paralelo com o filósofo Nicolau Maquiavel, cujas ideias construídas nos séculos XV e XVI ecoam até hoje. Não se trata de aceitar alguma semelhança por vaidade, por querer instalar-se no panteão dos grandes pensadores. O motivo é mais prosaico, e Da Empoli reconhece uma semelhança crucial: viveram ambos em um tempo de profundas incertezas e caos. Dito de outro modo, agora como lá no coração do Renascimento: compreender o vaivém de figuras poderosas como Donald Trump e Vladimir Putin exige conhecer menos os manuais de ciência política e se familiarizar mais com as crônicas romanas de Suetônio e Tácito — textos que capturam a natureza imprevisível do poder, eis o segredo das altas esferas.

Com passagens pela assessoria política de figuras como o ex-primeiro-ministro italiano Matteo Renzi e o vice-­primeiro-ministro Francesco Rutelli, além de proximidade com o presidente da França, Emmanuel Macron, Da Empoli leciona política comparada na Sciences Po Paris. O escritor, de 52 anos, consolidou sua reputação como observador privilegiado das mutações dos grandes salões de governantes. É nome inescapável, a respeito de quem muito se falará ainda, com o planeta em convulsão.

ORIGEM - Maquiavel: a Florença do Renascimento estava mergulhada em incertezas, tal como o mundo hoje
ORIGEM - Maquiavel: a Florença do Renascimento estava mergulhada em incertezas, tal como o mundo hoje (Austrian Archives/Imagno/Getty Images)

Seu ensaio A Hora dos Predadores — lançado recentemente pela Vestígio — oferece uma cartografia inquietante do mundo atual. A tese central do livro é a convergência entre “predadores políticos” (autocratas) e “predadores tecnológicos” (oligarcas das big techs). Ambos compartilham um obje­ti­vo: destruir as antigas elites — políticos tradicionais, juízes, jornalistas — e “emancipar-se das regras”, criando um sistema em que o poder não possa mais “ser regulado, limitado, contrabalanceado”. Nessa nova ordem, a confusão deixa de ser uma falha do sistema para se tornar estratégia. “O caos não é mais a arma dos rebeldes, mas o selo dos dominantes”, disse Da Empoli a VEJA.

O cenário em que essa nova tirania floresce é o que o autor chama de “Somália digital”: um Estado falido onde não há instituições funcionais nem leis efetivas. “Onde a lei é feita pelos senhores da guerra, por quem é mais forte e mais violento”, diz ele. Nesse ambiente, a promessa de ação rápida e de “milagres” — contornando as regras impostas pelas elites dominantes — torna-se irresistível para populações que enxergam os sistemas tradicionais como travados e ineficazes.

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A HORA DOS PREDADORES, de Giuliano Da Empoli (tradução de Julia da Rosa Simões; Vestígio, 128 páginas, R$ 59,80 e R$ 41,90 em e-book)
A HORA DOS PREDADORES, de Giuliano Da Empoli (tradução de Julia da Rosa Simões; Vestígio, 128 páginas, R$ 59,80 e R$ 41,90 em e-book) (./.)

É natural, como em tudo na vida, que a inteligência artificial (IA) desponte como cola dessas relações entre quem manda e quem obedece. Da Empoli voa alto, ao passear pela literatura. “A IA é uma tecnologia borgiana, que não persuade, ela sidera — isto é, paralisa ou domina”, afirma. Trata-se, portanto, de ferramenta que cimenta ainda mais a autocracia que nasceu do voto e, ancorada no populismo sem freio, parece que vai ditar por muito tempo ainda os humores da civilização.

E o Brasil nessa história? Da Empoli, atento ao noticiário recente, identifica o país como um “exemplo quase único” de resistência diante da pressão de Trump, que tentou dissuadir as instituições de julgar o ex-presidente Bolsonaro e de regulamentar as plataformas tecnológicas — atitudes que, segundo ele, “honram o sistema brasileiro”, sugerindo termos desenvolvido algum tipo de “anticorpo político”. Seria a tal “química” ou a “petroquímica inteira” a que se referiram Trump e Lula, depois de se esbarrarem nos corredores da ONU? O Brasil, aliás, não entra do nada na cabeça de Da Empoli: torcedor da Roma, aprendeu a vibrar com o mítico clube durante “a grande temporada de Falcão”, de 1980 a 1985. O futebol talvez seja uma de suas poucas válvulas de escape do cotidiano intelectual.

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Leitor voraz, Da Empoli confessa não conseguir separar trabalho de hobby. “Não sou capaz de dizer se trabalho sempre ou não trabalho nunca”, admite, revelando que tem a sorte de gostar do que faz. No momento, está relendo Graham Greene, que considera “um escritor maravilhoso”. Sua produção inclui ensaios e romances aplaudidos, como O Mago do Kremlin, inspirado em Putin, que soa como ficção, mas pode não ser. Está lá, na frase de um dos personagens, ao modo maquiavélico: “Se seu amigo morreu, não o enterre. Fique um pouco afastado e espere. Os abutres virão e você fará um monte de amigos novos”.

Publicado em VEJA de 24 de outubro de 2025, edição nº 2967

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