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O homem que faz o estilo dos papas

Entre tecidos litúrgicos, música sacra e perfume, o artista Filippo Sorcinelli transforma a espiritualidade em alta costura

Por Cinthia Rodrigues, de Roma
Atualizado em 5 Maio 2025, 09h03 - Publicado em 5 Maio 2025, 09h03

Incenso, silêncio e música sacra. É nesse cenário quase monástico, no coração da Borgo Pio, rua histórica vizinha ao Vaticano, que Filippo Sorcinelli, natural de Senigália, cidade da região de Marche, realiza um trabalho que poucos conhecem — mas milhões veem. Ele é o homem por trás de algumas das vestes litúrgicas mais impactantes usadas pelo papa Francisco, além de outras figuras centrais da Igreja Católica.

Sorcinelli é mais que um alfaiate. É organista, perfumista, designer e criador da LAVS (Laboratorio Atelier Vesti Sacre), ateliê que une liturgia, arte e estética contemporânea. Suas criações já foram vistas em missas campais, celebrações papais e exposições de arte sacra. Ele afirma que não veste apenas padres, mas cria vestes que representam o sagrado. Sua abordagem é sensorial e simbólica. As casulas, estolas e túnicas que cria usam materiais tecnológicos, texturas inesperadas e desenhos com forte carga espiritual. 

Filippo Sorcinelli é designer e criador da LAVS (Laboratorio Atelier Vesti Sacre), ateliê que une liturgia, arte e estética contemporânea. -
Filippo Sorcinelli é designer e criador da LAVS (Laboratorio Atelier Vesti Sacre), ateliê que une liturgia, arte e estética contemporânea. – (Instagram/Reprodução)

Ele vê o vestuário litúrgico como uma linguagem, com a missão de tornar o invisível, visível. Cada peça é pensada como uma extensão da liturgia, uma ponte entre o divino e o humano. Além dos trajes, Sorcinelli desenvolve perfumes religiosos — aromas inspirados em momentos litúrgicos e usados por clérigos ao redor do mundo. Suas fragrâncias são vendidas em frascos numerados e levam nomes como “Sanctus” ou “Habemus Papam”. 

O seu ateliê, fundado em 2001, recebe não apenas padres e bispos, mas também artistas, cineastas e músicos que veem em sua obra um diálogo entre fé e contemporaneidade. Sorcinelli resume sua missão dizendo que tudo o que faz parte do mesmo gesto: a busca por Deus através da beleza. 

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Mesmo com crescente reconhecimento internacional, Sorcinelli permanece fiel à sua missão original: servir à Igreja através da arte. Em um tempo em que a imagem é tão poderosa quanto a palavra, ele é o homem que cuida de como o sagrado se apresenta ao mundo.

Raniero Mancinelli: o alfaiate do Vaticano que prepara o traje do próximo papa

A poucos metros dali, também na rua Borgo Pio, em uma alfaiataria mais discreta e silenciosa, outro nome segue com mãos firmes uma tradição que já vestiu três papas. Raniero Mancinelli, romano, é o responsável por costurar a batina que o futuro pontífice usará em sua primeira aparição pública após o conclave. Com a proximidade da escolha, Mancinelli trabalha dia e noite em seu ateliê. Sem saber quem será o escolhido, ele prepara três batinas brancas de tamanhos diferentes: 50, 54 e 58. Uma delas será usada assim que o novo Santo Padre for eleito e se apresentar na sacada central da Basílica de São Pedro.

O estilista Raniero Mancinelli (centro) se encontra com o papa Francisco (esq.) -
O estilista Raniero Mancinelli (centro) se encontra com o papa Francisco (esq.) – (Arquivo/Reprodução)
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Mancinelli afirma que é sempre uma emoção. Ele reza enquanto costura, algo que faz desde 1962, vestindo o Vaticano. Ele conheceu pessoalmente João Paulo II, Bento XVI e Francisco — e guarda de cada um memórias que se refletem nos tecidos escolhidos. Bento XVI preferia trajes luxuosos e bem estruturados; Francisco optava pela sobriedade extrema e por tecidos simples.

Mancinelli não usa moldes. O corte é feito à mão, no estilo artesanal que aprendeu com o pai. A lã fria que escolheu para as batinas é ideal para diferentes estações, e o solidéu — pequeno gorro branco papal feito de pura seda — já está pronto, à espera do sucessor de Francisco. Mancinelli, calmo, conhece de cor os manequins de vários cardeais. Ele disse que a batina de número 50 ficaria bem em Pietro Parolin, e a de número 54 em Matteo Zuppi. Para Luis Antonio Tagle, o tamanho seria pequeno. Sobre quem será o próximo papa, mantém a humildade de sempre: não cabe a ele prever. Sua missão é costurar, com fé e silêncio.

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