Três semanas depois de Moçambique ter sofrido o impacto de um dos piores ciclones da história, o Idai, que deixou em seu rastro mais de 500 mortos (estima-se que o número dobre) e quase 100 000 desabrigados, imagens em tons de desespero permanecem coladas a uma vasta região onde faltam comida, abrigo e tudo o que é básico. O problema mais premente agora é um surto de cólera: na quinta-feira 4, passava de 1 500 o total de pessoas infectadas. O cólera é endêmico no país e a causa de sua disseminação desta vez é a destruição dos reservatórios, o que levou os moradores dos arredores da devastada Beira, a segunda maior cidade moçambicana, a consumir água contaminada. “Insistimos com a população para que dê atenção à higiene, lave as mãos e tome outras medidas de prevenção”, disse Ussene Isse, diretor nacional de assistência médica. Algumas estradas foram reparadas, inclusive a que liga Beira à capital, Maputo, e 900 000 doses de vacina estão sendo distribuídas onde é possível. Se tratada logo no início, a desidratação causada pela doença pode ser revertida, mas os postos de saúde improvisados não chegam às regiões que ainda estão isoladas. Além do cólera, outras doenças rondam a catástrofe, entre elas a malária (700 000 mosquiteiros estão sendo despachados para a área afetada) e o sarampo. Sem falar na fome — nenhuma plantação sobreviveu à inundação e ao açoite de ventos de até 180 quilômetros por hora.
Publicado em VEJA de 10 de abril de 2019, edição nº 2629