
Tão certo quanto a chegada do inverno — que agora em 2025 veio rigoroso, embora em anos anteriores tenha sido ameno, em decorrência das mudanças climáticas —, os protestos brotam com a chegada do Fórum Econômico Mundial de Davos, nos Alpes suíços. Não deu outra na mais recente edição do evento. Eles eram poucos, mas barulhentos. A caminhada de cerca de 25 quilômetros debaixo de neve culminou na tinta verde arremessada contra o portão de entrada de um dos hotéis do encontro, o Flüela. Protestavam — e com razão — contra a lentidão para fazer andar o pacto ambiental que livre a humanidade de um mundo com a temperatura 1,5 grau acima daquela do período pré-industrial, como já ocorreu em 2024. Embora tudo pareça como em outras temporadas, na branquidão das montanhas, há um fator novo no tabuleiro, e seu nome é Donald Trump. A saída dos Estados Unidos do jogo de responsabilidades, como aconteceu no primeiro mandato do republicano, representará inaceitável passo atrás. Essa possibilidade gerou dor de cabeça na imensa maioria dos 3 000 líderes de mais de 130 países, incluindo sessenta chefes de Estado e de governo reunidos na Suíça. “O encontro ocorre no cenário geopolítico mais complicado das últimas gerações”, disse Børge Brende, presidente do colóquio. Há, na mesa, para além do trumpismo, guerras que não cessam, como a da Ucrânia invadida pela Rússia, e o frágil equilíbrio do cessar-fogo entre Israel e o Hamas. É como se Davos, nesse contexto, fosse mero conto de fadas.
Publicado em VEJA de 24 de janeiro de 2025, edição nº 2928