No G20, Merkel quer ter conversa clara com Bolsonaro sobre desmatamento
Chanceler alemã descarta o apelo de ONGs para interromper negociações comerciais por causa das políticas do Brasil sobre meio ambiente e direitos humanos
A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou nesta quarta-feira, 26, deseja uma “discussão clara” com o presidente Jair Bolsonaro sobre o desmatamento no Brasil, em paralelo à reunião de cúpula do G20 em Osaka, Japão, nos dias 28 e 29. Merkel, porém, teve o cuidado de dizer que o tema não comprometerá a possível conclusão do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia.
“Assim como vocês, vejo com grande preocupação a questão das ações do presidente brasileiro (em relação ao desmatamento) e, se a questão se apresentar, aproveitarei a oportunidade no G20 para ter uma discussão clara com ele”, afirmou a chanceler alemã no Parlamento da Alemanha.
Até o momento, não há confirmação de encontro reservado entre Merkel e Bolsonaro às margens do G20, o que indica a intenção da chanceler de abordar o tema diante de todos os demais líderes das maiores economias do mundo.
O desmatamento na Amazônia e no Cerrado brasileiros, movida especialmente pela expansão da agropecuária e do extrativismo, tem sido acompanhado com preocupação pelos governos europeus e também por organizações-não governamentais. Em carta aberta, 340 ONGs europeias e sul-americanas, incluindo o Greenpeace e os Amigos da Terra, pediram a interrupção das negociações do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul por causa das medidas de desrespeito aos direitos humanos e da “destruição de algumas das regiões mais preciosas e ecologicamente valiosas do mundo, como a Amazônia” pelo governo de Bolsonaro.
Merkel, entretanto, não acolheu o apelo das ONGs e afirmou aos parlamentares alemães não ser esta a ” resposta para o que está acontecendo no Brasil”.”Acredito que a não conclusão do acordo com o Mercosul não contribuiria de forma nenhuma para o fato de que um hectare a menos seja desmatado no Brasil. Pelo contrário”, declarou a chanceler.
Outro motivo de preocupação dos governos europeus e das ONGs é o posicionamento do Brasil em relação aos compromissos do Acordo de Paris sobre Mudança do Clima, de 2015. Bolsonaro chegou a dizer que pretendia seguir o exemplo dos Estados Unidos e retirar-se do acordo, mas recuou diante de argumentos apresentados por seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Mas o governo manteve sua decisão de não sediar a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a COP 25, em novembro deste ano, que se dará no Chile.
Fundo Amazônia
O mesmo Salles, porém, defende a proposta do governo de permitir que os recursos do Fundo Amazônia sejam usados para pagar indenizações a proprietários de terras localizadas em unidades de conservação ambiental.
O Fundo Amazônia foi criado em 2008 com recursos da Alemanha e da Noruega e tem a finalidade de financiar projetos de redução de emissões dos gases do efeito estufa associados ao desmatamento. Em carta a Salles, enviada no início deste mês, os governos dos dois países pediram que o fundo continue a operar conforme suas regras originais e sob a administração do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).