Na trilha de Josef Stalin: a nova vitória de Putin
Presidente foi eleito para o quinto mandato no Kremlin. Ele venceu com 87% dos votos

A encruzilhada era clara, e as duas estradas levariam a um mesmo destino: ou as eleições presidenciais da Rússia seriam um jogo de cartas marcadas, fraudulento, ou então — ainda que o sufrágio corresse dentro de lei — a população seria enganada por outro tipo de mentira, a do nacionalismo em torno da invasão da Ucrânia. Os dois movimentos, simultâneos, elegeram o presidente Vladimir Putin para o quinto mandato no Kremlin. Ele venceu com 87% dos votos. Ao fim do próximo período, e com direito a reeleição, chegaria a 2030 com um recorde: mais tempo no poder do que Josef Stalin — a quem se associa no panteão dos ditadores. O bigodudo esteve no comando, entre 1924 e 1953, até morrer, durante exatos 29 anos e um mês. Putin chegaria a trinta anos e sete meses. É tempo demais, retrato do modo autocrático pelo qual manda e desmanda no país, ancorado no clássico roteiro do déspota que pede socorro a uma guerra para domar os cidadãos. Nas palavras de Svetlana Aleksiévitch, Nobel de Literatura, o mundo não percebeu que “Putin é como Hitler com novas tecnologias”. Pôr o nome do Führer na mesa é recurso para provocar discussões — mas a metáfora, nesse caso, é cabível. Basta ver o que Putin reserva aos opositores. O chefe do grupo mercenário Wagner, Yevgeny Prigozhin, que liderara uma revolta, perdeu a vida em um acidente de avião mal explicado. Alexei Navalny, o mais ferrenho adversário do neoczar, morreu numa colônia penal no Ártico. Gélido, Putin nega qualquer envolvimento nas duas situações. Quem acredita no que ele diz?
Publicado em VEJA de 22 de março de 2024, edição nº 2885