Zelensky critica Brasil por plano de paz alternativo para Ucrânia e Lula rebate
Petista assina embaixo de proposta chinesa que o líder ucraniano acusa de minar interesses de seu país; brasileiro afirma acreditar em 'solução diplomática'
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, usou seu discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas, nesta quarta-feira, 25, para rejeitar a proposta da China e do Brasil para o fim da guerra contra a Rússia no país. O líder acusou a dupla de tentar “aumentar seu poder às custas da Ucrânia” e criticar a apresentação de um roteiro alternativo para a paz, quando ele próprio já anunciou um “plano de vitória”.
“Quando a dupla sino-brasileira tenta aumentar seu coro de vozes – com alguém na Europa, com alguém na África – levantando uma alternativa a uma paz plena e justa, surge a pergunta: qual é o verdadeiro interesse? Todos precisam entender, vocês não aumentarão seu poder às custas da Ucrânia”, disparou.
Lula, por sua vez, afirmou em coletiva que seu homólogo ucraniano falou “o óbvio” em seu discurso, já que defender a própria soberania é uma “obrigação dele”, mas criticou Zelensky pelo fracasso em encontrar uma solução para o conflito de mais de 31 meses.
“Ele tem que ser contra ocupação territorial, é a obrigação dele. O que ele não está conseguindo fazer é a paz. E o que nós estamos propondo fazer não é a paz, segundo ele”, afirmou Lula a repórteres em Nova York. “Nós estamos é chamando a atenção para que eles levem em consideração que somente a paz vai garantir que a Ucrânia sobreviva enquanto país soberano, e a Rússia sobreviva”, completou.
Segundo o petista, Kiev não é obrigada a aceitar a proposta elaborada pelo Brasil e pela China.
“Temos uma tese: que é importante começar a conversar. Eu vou dizer mais. Se ele fosse esperto, diria que a solução é diplomática, não militar. Isso depende da capacidade de sentar e conversar, tentar chegar a um acordo para que o povo ucraniano tenha sossego na vida”, concluiu.
A crítica de Zelensky
A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022. Nove meses depois, Zelensky anunciou um plano de paz de 10 pontos para dar um fim justo à guerra. com base na Carta da ONU e no direito internacional. Moscou rejeitou o plano.
“A fórmula da paz já existe há dois anos. Talvez alguém queira um Prêmio Nobel por sua biografia política, uma trégua congelada ao invés de paz real. Mas os únicos prêmios que Putin lhe dará em troca são mais sofrimento e desastres”, disse ele, referindo-se ao presidente russo, Vladimir Putin.
Zelensky acrescentou que propor “alternativas e planos de acordos sem entusiasmo” daria a Putin a chance de dar continuidade à guerra, porque seriam capazes apenas de alcançar “uma calmaria”, ao invés de um fim verdadeiro do conflito.
O plano de Pequim
A China tem tentado convencer nações em desenvolvimento a se juntarem ao plano de paz, com seis pontos, que o gigante asiático emitiu em parceria com o Brasil em maio.
A proposta pede uma conferência internacional de paz, a ser “realizada em um momento adequado e que seja reconhecida tanto pela Rússia e Ucrânia”. O evento teria “participação igual de todas as partes, bem como discussão justa de todos os planos de paz”.
Em seu discurso à Assembleia-Geral das Nações Unidas na terça-feira 24, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu o plano. “Criar condições para a retomada do diálogo direto entre as partes é crucial neste momento. Essa é a mensagem do entendimento de seis pontos que China e Brasil oferecem para que se instale um processo de diálogo e o fim das hostilidades”, disse ele.
O presidente ucraniano planeja expor um “plano de vitória” ao presidente dos EUA, Joe Biden, na Casa Branca na quinta-feira.