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Morte do líder militar do Hamas pode abrir caminho para negociação de paz?

Pode acontecer se as partes envolvidas quiserem — e elas dizem não querer

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 out 2024, 12h29 - Publicado em 25 out 2024, 06h00

Cortar cabeças parece ter se tornado o objetivo preferencial da IDF, a sigla em inglês das Forças de Defesa de Israel, em meio ao recrudescimento dos bombardeios aéreos e ataques terrestres contra seus inimigos. Em escalada exponencial da guerra desencadeada pelo bárbaro ataque-surpresa em que terroristas do grupo palestino Hamas cruzaram a fronteira da Faixa de Gaza, matando 1 200 pessoas, ferindo 5 000 e fazendo mais de 200 reféns, em outubro do ano passado, as tropas israelenses invadiram o Líbano em perseguição ao Hezbollah, poderosa milícia aliada do Hamas, sem deixar de torpedear Gaza — a cifra oficial de mortos aproxima-se de 42 000, subindo velozmente. Resultado: em questão de semanas, as duas organizações empenhadas na destruição de Israel ficaram acéfalas com a morte de seus principais líderes — sendo o maior trunfo israelense o disparo fatal na cabeça que tirou a vida de Yahya Sinwar, chefe militar do Hamas.

Com a posição bélica de Israel mais fortalecida do que nunca e a dos palestinos enfraquecida, as potências ocidentais em peso, do lado de fora do conflito, empreendem campanha cerrada em prol da negociação de um cessar-fogo e liberação dos sequestrados. Resta combinar com quem está dentro: as declarações até agora são todas no sentido de continuar combatendo. A morte de Sinwar — precedida pela do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, e seu provável sucessor, Hashem Sefieddine (esta, recém-confirmada), na explosão de um bunker em Beirute — é vista amplamente como a melhor chance de encerrar a guerra. Ardiloso e conhecedor do modus operandi israelense depois de passar 23 anos em uma prisão no país, avesso a propostas de trégua, o Açougueiro, como era chamado pela crueldade, foi pego aparentemente por acaso, depois de passar meses enfurnado no emaranhado de túneis construído pelo Hamas, em uma investida de soldados israelenses contra um grupo de suspeitos na Faixa de Gaza. Imagens de um drone mostram seus últimos momentos, ferido, com o rosto coberto, sentado na sala de um apartamento em ruínas. Em seguida, as tropas entraram e dispararam o tiro fatal.

Com ele fora do jogo, intensificaram-se as pressões pela trégua. “Está na hora de a guerra acabar e os reféns voltarem para casa”, sublinhou o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. “É necessário pôr fim à violência e ao sofrimento dos palestinos”, martelou Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia. Itália, Reino Unido e França — onde Emmanuel Macron pouco antes já havia subido o tom com Israel ao falar em um embargo à venda de armas — engrossaram o coro, posicionando-se a favor da interrupção dos combates e da elaboração de um plano para o pós-guerra. “O momento é oportuno para Israel, devido ao grande vácuo de poder no Hamas”, diz Noah Slepkov, do Jewish People Policy Institute, centro de pesquisas em Jerusalém.

A HORA DE PARAR - Antony Blinken: recomendação para Benjamin Netanyahu “capitalizar” a morte do inimigo em Gaza
A HORA DE PARAR – Antony Blinken: recomendação para Benjamin Netanyahu “capitalizar” a morte do inimigo em Gaza (David Azagury/EFE)

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, em sua décima primeira viagem a Israel em doze meses, reuniu-se com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e, segundo fontes próximas das conversações, o aconselhou a “capitalizar” a morte de Sinwar e tomar “passos concretos” para alcançar a libertação dos reféns — cerca de 100, dos quais, acredita-se, mais da metade estaria viva. Netanyahu, ao menos oficialmente, segue firme na direção contrária. Após a identificação do corpo de Sinwar, considerou ser aquele “o começo do fim”, mas advertiu que a guerra não acabou. “Hoje o mal sofreu um duro golpe, mas a tarefa diante de nós ainda não está completa”, declarou, reiterando o propósito de “eliminar o Hamas” — mote com o qual vem garantindo sua sobrevivência política.

Do outro lado, o braço armado do grupo palestino disse que Israel “delira” se pensa que assassinar líderes forçará um recuo, enquanto o Hezbollah — ignorando o apelo do primeiro-ministro do Líbano, Najib Mikati, pela reativação do mecanismo que, em 2006, encerrou outra guerra com Israel por meio da implementação de soldados das Nações Unidas na fronteira — garantiu que seguirá na cruzada para erradicar “o tumor sionista”. “Em uma situação controlada, o aumento da capacidade de dissuasão de todos os lados poderia reduzir a escalada das hostilidades, mas estamos falando de um Oriente Médio disfuncional”, diz Michel Gherman, professor de sociologia da UFRJ. Equilibrando-se entre pendências cruciais, sendo as mais decisivas a escolha de um alvo para rebater a chuva de mísseis lançada pelo Irã no início do mês e o resultado da eleição americana em 5 de novembro, Netanyahu não parece ter pressa em sentar-se à mesa para negociar o cessar-fogo e os termos de uma permuta de prisioneiros por reféns — fala-se até no altamente improvável uso do corpo de Sinwar como moeda de troca. Enquanto isso, a guerra continua.

Publicado em VEJA de 25 de outubro de 2024, edição nº 2916

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