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Morre Mikhail Gorbachev, último líder da União Soviética

Ex-líder comunista, cujo governo foi associado ao fim da Guerra Fria e à perestroika, a reforma que levou à reabertura, lutava contra uma longa doença

Por Da Redação Atualizado em 30 ago 2022, 20h06 - Publicado em 30 ago 2022, 17h42

Mikhail Gorbachev, último presidente da União Soviética antes da dissolução, morreu em Moscou nesta terça-feira, 30, aos 91 anos, de acordo com agências de notícias russas.

O ex-líder comunista, cujo governo foi associado ao fim da Guerra Fria e à perestroika, a reforma que levou à reabertura, lutava contra uma longa doença. Não foram dados mais detalhes.

“Mikhail Sergeevich Gorbachev morreu nesta noite após uma severa e prolongada doença”, afirmou o Hospital Central de Clínicas de Moscou, segundo a agência RIA. Ele será enterrado no cemitério Novodevichy, em Moscou, ao lado de sua esposa.

Embora tenha ficado no poder por menos de sete anos, Gorbachev forjou acordos de reduções de armas com os Estados Unidos, em meio aos temores de um possível confronto nuclear, e parcerias com potências ocidentais para remover a Cortina de Ferro, que dividia a Europa desde a II Guerra Mundial.

Ao se tornar secretário-geral do Partido Comunista Soviético, em 1985, ele tinha como missão revitalizar o sistema ao introduzir liberdades políticas e econômicas limitadas, mas suas reformas fugiram de seu controle. A glasnost, ligada à liberdade de expressão, permitiu críticas antes impensáveis ao partido e ao Estado, e impulsionou movimentos nacionalistas que pediam independência para repúblicas como Letônia, Lituânia e Estônia.

Quando movimentos pró-democracia varreram as nações do bloco soviético na Europa ocidental, em 1989, ele se absteve do uso de força, diferentemente de antigos chefes do Kremlin que enviaram tanques para conter levantes na Hungria, em 1956, e na Checoslováquia, em 1968.

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Um quarto de século depois, em entrevista à Associated Press, ele disse que não considerou o uso de força para tentar manter unida a União Soviética porque temia o caos em um Estado nuclear.

“O país estava repleto de armas. E seria empurrado imediatamente para uma guerra civil”, disse.

Embora muitos russos nunca o tenham perdoado pelas turbulências geradas por suas reformas, ele passou a ser visto com admiração no exterior, a exemplo do Nobel da Paz que recebeu em 1990 pelo papel no fim da Guerra Fria.

Em suas memórias, expressou frustração sobre como um país com imensos recursos naturais possui dezenas de milhões vivendo na pobreza.

“Nossa sociedade foi sufocada por um sistema de comando burocrático”, escreveu. “Condenada a servir à ideologia e suportar o pesado fardo da corrida armamentista, foi forçada ao máximo.”

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Em discurso à nação quando saiu do poder, e a União Soviética colapsou, reconheceu que “o processo de renovar este país e gerar mudanças fundamentais na comunidade internacional se provou muito mais complexo do que originalmente antecipado”.

“No entanto, reconheçamos o que foi alcançado até agora. A sociedade adquiriu liberdade; foi libertada política e espiritualmente. E esta é a conquista mais importante, que ainda não conseguimos entender completamente, em parte porque ainda não aprendemos a usar nossa liberdade”, disse.

Segundo o jornalista russo Alexei Venediktov, que estava em contato direto com o veterano político do seu país, Gorbachev viu, pouco antes de morrer, seu legado desmantelado e estaria consternado por presenciar o trabalho de sua vida “destruído” por Vladimir Putin. Enquanto Moscou mergulha no autoritarismo e na agressão militar, a invasão à Ucrânia, iniciada em fevereiro, restaurou a presença da Otan, principal aliança militar ocidental, perto da fronteira com a Rússia, que se vê cada vez mais isolada do Ocidente.

Em 2011, ele já havia mostrado descontentamento com as políticas de Putin, dizendo que o então primeiro-ministro “castrou” o sistema eleitoral do país. Putin mudou radicalmente o sistema de voto na Rússia durante seus dois mandatos como presidente (em 2000 e 2004), excluindo candidatos independentes e partidos menores a favor da centralização do poder. Barrado pela Constituição russa para se reeleger pela terceira vez, Putin ajudou seu protegido, Dmitry Medvedev, a vencer as eleições presidenciais em 2008.

Em 2021, a Câmara dos Deputados da Rússia aprovou um projeto de lei que permitiu que Putin se candidate a duas novas reeleições, sendo a primeira delas em 2024, quando será concluído seu atual mandato. Uma das principais modificações, e alvo de críticas de opositores, é a permissão para que o presidente se apresente como candidato e, em teoria, possa ficar no poder até 2036.

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“O sistema eleitoral que nós tínhamos não era extraordinário, mas eles literalmente o castraram”, disse Gorbachev. “Putin e sua equipe defendem a estabilidade, mas isso mata o desenvolvimento e resulta em estagnação”, afirmou.

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