Meio século depois, ONU retoma conferência sobre consumo excessivo de água
Cerca de um quarto da população mundial depende de água potável insegura, enquanto dois quartos carecem de saneamento básico, segundo Nações Unidas
Depois de quase meio século, a Organização das Nações Unidas abriu novamente uma conferência para debater a segurança hídrica, com um apelo aos governos para administrar melhor um dos recursos compartilhados pela humanidade. A conferência, que irá durar três dias, começou nesta quarta-feia, 22, em Nova York.
Segundo a ONU, cerca de um quarto da população mundial depende de água potável insegura, enquanto dois quartos carecem de saneamento básico.
“Estamos drenando o sangue vital da humanidade por meio do consumo vampiresco e uso insustentável e evaporando-o por meio do aquecimento global”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
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A conferência acontece poucos dias depois da publicação de um relatório alarmante feito pelas Nações Unidas, que afirma que a Terra deve atingir seu limite, ou “ponto de não retorno”, em 2030, antes do esperado. Segundo a organização, contudo, energia e tecnologia limpas podem ser exploradas para evitar um desastre climático, e seu novo estudo também é um “guia de sobrevivência para a humanidade”.
A pesquisa aponta que a meta que os governos haviam estabelecido no Acordo de Paris, em 2015, para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais não é factível. Especialistas apontam que o mundo já aqueceu 1,1°C e deve ultrapassar os 1,5°C na década de 2030.
A conferência desta quarta-feira, no entanto, não pretende produzir acordos vinculantes, como os que surgiram nas reuniões climáticas em Paris de 2015, ou em Montreal em 2022. Segundo Guterres, a reunião deve “resultar em uma ousada Agenda de Ação Hídrica que dá à força vital do nosso mundo o compromisso que ela merece”.
A agenda visa estabelecer compromissos com países e representantes do setor e criar “ímpeto político”. Guterres também argumentou que os governos precisam de planos que “assegurem o acesso equitativo à água para todas as pessoas, conservando este precioso recurso” e trabalhem com seus vizinhos para gerenciá-lo.
Imediatamente, os Estados Unidos responderam ao apelo do secretário-geral.
“Tenho orgulho de anunciar que os Estados Unidos estão destinando US$ 49 bilhões para investimentos equitativos, resilientes ao clima, em água e saneamento no país e no mundo”, disse a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield.
De acordo com ela, esse dinheiro “ajudaria a criar empregos, prevenir conflitos, proteger a saúde pública, reduzir o risco de fome e fome e nos permitir responder às mudanças climáticas e aos desastres naturais”. Thomas-Greenfield não deu um cronograma para os investimentos ou detalhes sobre onde o dinheiro seria investido.
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Diversos cientistas, economistas e especialistas em políticas agrupados pelo governo da Holanda na Comissão Global sobre a Economia da Água recomendaram a eliminação gradual de cerca de US$ 700 bilhões em subsídios agrícolas e hídricos, principalmente porque são prejudiciais ao meio ambiente. Eles também endossam parcerias entre instituições financeiras de desenvolvimento e investidores privados para melhorar os sistemas de água.
Garantir o acesso à água potável e ao saneamento básico é uma das metas estabelecidas pela ONU para um desenvolvimento sustentável no mundo. Dentre elas, também está acabar com a fome e a pobreza, alcançar a igualdade de gênero e agir contra as mudanças climáticas.