Mauro Vieira define guerra em Gaza como ‘carnificina’ e anuncia operação para retirada de brasileiros
Em reunião da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, chanceler também criticou a "paralisação" do Conselho de Segurança da ONU

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, definiu nesta terça-feira, 20, a campanha militar de Israel na Faixa de Gaza como uma “carnificina” e adiantou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva planeja uma operação para retirar um pequeno grupo de brasileiros que permanece no enclave palestino. Em reunião da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado, ele também criticou a “paralisação” do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
“Há um número elevadíssimo de crianças mortas. São milhares, algo como 18 mil, em um só dia 180 crianças morreram. É algo que a comunidade internacional não pode ver de braços cruzados”, disse.
“Lamentavelmente, nas Nações Unidas, o Conselho de Segurança, que é o órgão que é responsável pela manutenção da paz e da segurança internacional, está paralisado. O poder de veto dos cinco membros permanentes sempre paralisa, para um lado ou para o outro, todas as iniciativas”, continuou Vieira, acrescentando que a guerra em Gaza “é uma invasão como todas as outras e o Brasil condena todas”.
O chanceler brasileiro afirmou que há “um desrespeito ao direito internacional e ao direito internacional humanitário”, em referência às operações militares israelenses. Ele destacou que o Brasil “condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia”, mas que não enxerga “todos os países condenando essa invasão (a Gaza)“, frisando: “É uma invasão”. Ele condenou assentamentos israelenses e a proposta do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Nentanyahu, apoiado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de tomar o controle da Faixa de Gaza.
“Há uma legislação agora que dá títulos de propriedade às áreas ocupadas pelos colonos israelenses na Palestina, o que é gravíssimo, é contra o direito internacional. E também há uma operação em movimento, sendo implementada, de anexação da Faixa de Gaza”, apontou Vieira. “Estamos trabalhando para repatriar um grupo pequeno de brasileiros que ainda estão lá, um grupo de 8 ou 9 pessoas, inclusive crianças brasileiras.”
O governo brasileiro participará de um evento em Madri, na Espanha, que reunirá países árabes, o Reino Unido e membros da União Europeia com o objetivo de ampliar o reconhecimento do Estado da Palestina. Em abril, O presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou, que o país planeja reconhecer a Palestina em junho, ao passo que apelou para que nações do Oriente Médio aceitem o Estado de Israel. O território foi validado pelo Brasil em 2010.
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Críticas generalizadas
A declaração de Vieira ocorre em meio à subida de tom de uma série de países com Israel. Na segunda-feira, 19, uma declaração conjunta de 22 países demandou que Israel “permita a retomada total da ajuda a Gaza” de forma imediata após o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, permitir a entrada “mínima” de suprimentos ao enclave palestino.
O comunicado foi assinado por Alemanha, Austrália, Canadá, Dinamarca, Estônia, Finlândia, França, Islândia, Irlanda, Itália, Japão, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Portugal, Eslovênia, Espanha, Suécia e Reino Unido. Antes, Reino Unido, França e Canadá já haviam ameaçado tomar “ações concretas” contra Israel — nesta terça-feira, o governo britânico suspendeu negociações de livre comércio com Tel Aviv e anunciou novas sanções contra assentamentos na Cisjordânia.
A nota definiu a entrada “mínima” de ajuda humanitária como “totalmente inadequada”. O trio se opôs “a qualquer tentativa de expandir os assentamentos na Cisjordânia” e afirmou que, apesar de apoiar o direito de defesa israelense, a resposta militar em Gaza era desproporcional. Mais de 51 mil palestinos foram mortos desde o início da guerra entre Israel e o grupo palestino radical Hamas, em outubro de 2023.
“Não ficaremos de braços cruzados enquanto o governo Netanyahu realiza essas ações atrozes. Se Israel não cessar a nova ofensiva militar e suspender suas restrições à ajuda humanitária, tomaremos novas medidas concretas em resposta”, alertou o comunicado, acrescentando que a linguagem de políticos israelenses sobre realocar palestinos era “abominável”.
Ainda nesta segunda-feira, o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanchez, apelou para que Israel seja excluído de eventos culturais internacionais devido à campanha militar em Gaza. Ele destacou que não se deve “permitir padrões duplos, nem mesmo na cultura” e criticou aqueles que defendem “um setor cultural insípido, silencioso e equidistante”.