Mãe de Osama bin Laden diz que filho foi ‘ótima criança’
Alia Ghanem concedeu ao jornal britânico 'The Guardian' sua primeira entrevista desde a morte do terrorista saudita
A mãe do ex-chefe da Al Qaeda, Osama bin Laden, falou publicamente sobre seu filho pela primeira vez em entrevista publicada pelo jornal britânico The Guardian nesta sexta-feira 3.
Sete anos após a morte do terrorista, em 2011, Alia Ghanem abriu as portas de sua casa em Jedá, na Arábia Saudita, para um jornalista. Segundo ela, seu filho foi uma criança tímida, que sofreu “lavagem cerebral” na universidade.
“Ele era uma ótima criança e me amava muito”, afirmou Ghanem ao The Guardian. “Minha vida foi muito difícil porque ele estava muito longe de mim.”
A mãe, de 71 anos, concedeu a entrevista ao lado de dois meios-irmãos de Bin Laden, Ahmad e Hassan, e do seu segundo marido, Mohammed al-Attas, que o criou desde os 3 anos.
Ghanem afirmou que a ideia de que seu filho pudesse se tornar um terrorista nunca passou por sua mente. Quando perguntada sobre como se sentiu quando descobriu as ações de Bin Laden, respondeu que ficou muito triste. “Eu não queria que nada disso acontecesse. Por que ele jogaria tudo fora dessa forma?”, questionou-se.
Bin Laden entrou na Universidade Rei Abdulaziz, em Jedá, em 1976, para estudar engenharia. Lá, segundo sua mãe, se tornou “um homem diferente”. “Ele era um ótimo filho até que conheceu algumas pessoas que praticamente fizeram lavagem cerebral nele quando tinha 20 e poucos anos”, diz Ghanem. “Eu sempre dizia para ele ficar longe dessas pessoas, e ele nunca admitia o que estava fazendo, porque me amava muito.”
Um dos homens que o terrorista conheceu na universidade foi Abdullah Azzam, membro da Irmandade Muçulmana, o qual foi posteriormente exilado da Arábia Saudita e se tornou conselheiro espiritual de Bin Laden.
Osama jihadista
No início dos anos 80, ele viajou para o Afeganistão para combater a ocupação russa. “Todo mundo que o conhecia em sua juventude o respeitava ”, afirmou Hassan, meio-irmão de Bin Laden, ao periódico.
“No início, tínhamos muito orgulho dele. Até o governo saudita o tratava de uma forma muito nobre e respeitosa. Mas aí veio o Osama mujahid”, completou, usando o termo em árabe que significa, em tradução livre, “guerreiro santo”.
O outro irmão do terrorista, Ahmad, também admite que Bin Laden tinha um lado diferente daquele que a família conhecia. Segundo ele, sua mãe é quem tem mais dificuldade para aceitar isso. “Ela o amava demais e se recusa a culpá-lo”, diz. “Ela só conhece o lado bom de garoto dele, o lado que todos nós víamos. Ela nunca conheceu o lado jihadista”, completa.
Ele diz ter ficado “chocado, atordoado” quando ficou sabendo do ataque de 11 de setembro de 2001 em Nova York. “Do mais jovem ao mais velho, todos nos sentimos envergonhados por ele”, afirmou Ahmad.
Ele lembra que, depois do ataque, integrantes da família que moravam na Síria, no Líbano, no Egito e na Europa tiveram que voltar para a Arábia Saudita.
Os familiares de Bin Laden foram interrogados por autoridades locais e, por algum tempo, ficaram proibidos de viajar. Atualmente, quase duas décadas depois do atentado, podem se mover com relativa liberdade dentro e fora do país.
Esposas e filho
Pelo menos duas das viúvas de Osama bin Laden e seus filhos vivem atualmente em Jedá, segundo o The Guardian. Uma das mulheres estava com ele durante o ataque em Abbottabad, no Paquistão, no qual as forças americanas o mataram.
As mulheres e os filhos do terrorista, contudo, não têm autorização para deixar a Arábia Saudita legalmente.
Ainda assim, seu filho mais novo, Hamza, de 29 anos, vive no Afeganistão. No ano passado, ele foi oficialmente considerado um “terrorista global” pelos Estados Unidos. As autoridades americanas acreditam que ele assumiu parte das responsabilidades do pai sob a regência do novo líder da Al Qaeda, Ayman al-Zawahiri.
Osama bin Laden morreu em maio de 2011, em um ataque das forças americanas na cidade paquistanesa de Abbottabad, no norte do país. Para que seu túmulo não se tornasse lugar de peregrinação, seu corpo foi sepultado no mar.
Os serviços de inteligência e as forças armadas americanas passaram anos tentando capturar o terrorista saudita, mentor dos atentados às Torres Gêmeas em Nova York, em 11 de setembro de 2001.