Macron diz que Otan está em estado de ‘morte cerebral’
Presidente francês critica falta de coordenação entre Europa e Estados Unidos e ações da Turquia na Síria
O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) se encontra em estado de “morte cerebral” pela falta de coordenação entre Europa e Estados Unidos e pelas ações agressivas da Turquia — o segundo maior exército do grupo — na Síria. As declarações foram dadas em em entrevista à revista The Economist publicada nesta quinta-feira, 7.
“Não há nenhuma coordenação na tomada de decisões estratégicas entre Estados Unidos e seus aliados da Otan. Nenhuma. Há uma ação agressiva, descoordenada, de outro aliado da Otan, a Turquia, em uma zona em que nossos interesses estão em jogo”, completou Macron.
Defendendo uma maior autonomia militar e estratégica para a Europa e um diálogo mais amplo com a Rússia, Macron disse que a situação atual da Otan “é um grande problema”, e que não há uma estratégia clara dentro da instituição.
Macron também questionou o futuro do artigo 5 da Otan, que estabelece que um ataque contra um Estado membro da organização é considerado um ataque contra todos.
“O que significará o artigo 5 amanhã? Se o regime de Bashar Assad decidir adotar represálias contra a Turquia, vamos nos comprometer com eles? É uma pergunta crucial”, disse.
“Entramos no conflito para lutar contra o Estado Islâmico. O paradoxo é que tanto a decisão americana como a ofensiva turca apresentaram o mesmo resultado: sacrificar nossos aliados que lutaram contra o Estado Islâmico no campo de batalha, as Forças Democráticas Sírias (FDS)”, lamenta o presidente francês.
No início de outubro, o governo dos Estados Unidos anunciou a retirada de suas forças das áreas de fronteira com a Turquia, no norte da Síria. Dois dias depois, a Turquia iniciou uma operação militar contra as forças curdas na região.
Durante os anos da guerra civil na Síria, as forças da Otan auxiliaram as FDS a se equiparem e lutarem contra o Estado Islâmico e o regime sírio. A força curda Unidades de Proteção Popular (YPG), grupo principal das SDF, foi a responsável por dar o último golpe ao EI em fevereiro deste ano.
A invasão turca na Síria tem como objetivo expulsas da fronteira as forças curdas e mudar a demografia do território ao assentar os refugiados sírios que se encontram dentro do país. Para o governo turco, as milícias curdas são grupos terroristas.
A Turquia suspendeu sua ofensiva após um acordo com a Rússia. Ainda assim, rebeldes apoiados por Ancara têm entrado em choque com tropas leiais a Assad e com as FDS na região
(Com AFP)