Macron alerta que pode ‘endurecer’ posição contra Israel caso não permita entrada de ajuda em Gaza
Presidente francês também defendeu a solução de dois Estados da ONU, que propõe a criação de uma nação israelense e uma palestina

O presidente da França, Emmanuel Macron, ameaçou nesta sexta-feira, 30, aplicar medidas contra Israel caso não permita uma maior entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Ao lado do primeiro-ministro de Singapura, Lawrence Wong, o líder francês também defendeu a solução de dois Estados da ONU, que propõe a criação de uma nação israelense e uma palestina. Em abril, Macron já havia adiantado que pretendia reconhecer o Estado da Palestina em junho, assim como o Brasil já o fez em 2010.
“O bloqueio humanitário está criando uma situação insustentável no terreno”, destacou Macron. “E então, se não houver uma resposta que atenda à situação humanitária nas próximas horas e dias, obviamente, teremos que endurecer nossa posição coletiva.”
“Mas ainda espero que o governo de Israel mude sua posição e que finalmente tenhamos uma resposta humanitária”, disse ele, embora tenha afirmado que cogita aplicar novas sanções a colonos israelenses.
Macron também afirmou que reconhecer o Estado da Palestina não é “apenas um dever moral, mas uma exigência política”. Ele, contudo, elencou exigências para tanto, como a “liberação dos reféns” mantidos pelo Hamas, a “desmilitarização” e a “não participação” do grupo palestino radical no governo e a “criação de uma arquitetura de segurança em toda a região”.
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Resposta israelense
Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores de Israel definiu como “mentira descarada” a acusação de que o país tem impedido a entrada de ajuda humanitária, citando que mais de 900 caminhões receberam a permissão desde o fim parcial do bloqueio na semana passada — no entanto, países como França, Alemanha, Reino Unido e Canadá alegam que o número é insuficiente e instam o governo israelense a agir com maior prontidão na análise de quais veículos recebem o sinal verde.
“Mas em vez de pressionar os terroristas jihadistas, Macron quer recompensá-los com um estado palestino”, rebateu o ministério em nota.
Na semana passada, as Forças de Defesa de Israel permitiram a entrada de caminhões com suprimentos de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. A mudança ocorreu poucas horas depois de o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciar, em meio à forte pressão internacional, a liberação do transporte de mantimentos, bloqueados desde 2 de março.
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Críticas generalizadas
O ex-primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, disse nesta terça-feira, 27, que o país comete crimes de guerra na Faixa de Gaza. Em artigo de opinião publicado no jornal israelense Haaretz, ele afirmou que “o governo de Israel está atualmente travando uma guerra sem propósito, sem metas ou planejamento claro e sem chances de sucesso” e que, como consequência, “milhares de palestinos inocentes estão sendo mortos, assim como muitos soldados israelenses”.
“Nunca, desde sua criação, o Estado de Israel travou uma guerra como essa. A gangue criminosa liderada por Benjamin Netanyahu também estabeleceu um precedente sem igual na história de Israel nessa área”, criticou Olmert, que ocupou o posto de 12º primeiro-ministro israelense entre 2006 e 2009.
Antigo membro do mesmo partido de Netanyahu, o Likud, ele também destacou que as “vítimas inúteis entre a população palestina” haviam atingido “proporções monstruosas” nas últimas semanas, resultado do aumento da violência da campanha militar de Israel no território. Olmert escreveu que “as operações recentes em Gaza não têm nada a ver com objetivos legítimos de guerra”, acrescentando: “Esta é agora uma guerra política privada. Seu resultado imediato é a transformação de Gaza em uma área de desastre humanitário”.
A comunidade internacional também aumentou o furor das críticas contra operações israelenses em Gaza. A União Europeia (UE) anunciou na última quarta-feira, 21, que revisará os laços comerciais com Israel devido à crise humanitária palestina. A chefe de política externa do bloco, Kaja Kallas, afirmou que Comissão Europeia, braço executivo da UE, reavaliará o Acordo de Associação UE-Israel, que regula as relações políticas e econômicas entre os dois lados através do livre comércio.
A decisão, segundo ela, foi aprovada por uma “forte maioria” dos ministros dos 27 países membros. A movimentação da UE ocorreu um dia após o governo britânico suspender as negociações de livre comércio com Israel e impor novas sanções contra assentamentos na Cisjordânia. Na semana passada, Reino Unido, França e Canadá ameaçaram “ações concretas” contra Israel em comunicado.
O trio também se opôs “a qualquer tentativa de expandir os assentamentos na Cisjordânia” e afirmou que, apesar de apoiar o direito de defesa israelense, não ficaria “de braços cruzados enquanto o governo (de Benjamin) Netanyahu realiza essas ações atrozes”.
O alerta foi seguido por uma declaração conjunta assinada por 22 países, que exige que Israel passe a “permitir a retomada total da ajuda a Gaza imediatamente e permitir que a ONU e as organizações humanitárias trabalhem de forma independente e imparcial para salvar vidas, reduzir o sofrimento e manter a dignidade”.