Lula se reúne com Putin, fala do potencial da relação Brasil-Rússia e critica Trump
Acompanhado de ministros e de Janja, brasileiro foi a Moscou para as celebrações de 80 anos da vitória da URSS sobre os nazistas na II Guerra Mundial

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma reunião de trabalho, nesta sexta-feira, 9, em Moscou, com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. O brasileiro viajou à capital russa participar da comemoração dos 80 anos do Dia da Vitória, que marca o triunfo da União Soviética sobre a Alemanha nazista na II Guerra Mundial, em 1945.
Com a presença de aliados, como o líder brasileiro e o presidente chinês, Xi Jinping, além de dezenas de líderes da antiga União Soviética, África, Ásia e América Latina, Putin tenta demonstrar que não está isolada em meio às sanções econômicas do mundo ocidental – uma retaliação contra a guerra na Ucrânia. Da Europa, apenas os líderes da Sérvia e da Eslováquia estavam presentes nos eventos.
O desfile militar que é a joia da coroa das celebrações do Dia da Vitória ocorreu nesta sexta, antes do encontro de Lula com Putin. O petista compareceu ao evento junto a outros 28 líderes mundiais, segundo o governo russo. Na véspera do desfile, o brasileiro participou de um jantar, em Moscou, oferecido por Putin.
Multilateralismo e aprofundamento dos laços comerciais
Realizada no Kremlin, a reunião desta sexta-feira girou em torno das relações entre Brasil e Rússia e da guerra comercial travada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e que afeta principalmente a China. Antes do encontro, o petista defendeu que a viagem faz parte de uma busca mais ampla por multilateralismo em meio às tensões entre duas grandes potências.
“A vinda à Rússia reafirma nosso compromisso com o multilateralismo. Iremos assinar acordos de cooperação em ciência e tecnologia e buscar a ampliação das nossas parcerias comerciais”, havia adiantado o presidente.
Durante a conversa com Putin, Lula defendeu o potencial de crescimento dos laços entre seus países, e mencionou os interesses brasileiros, em particular, no campo da cooperação tecnológica nas áreas da defesa, espacial e, sobretudo, na área energética.
“As últimas decisões anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos de taxação de comércio com todos os países do mundo, de forma unilateral, joga por terra a grande ideia do livre comércio, joga por terra a grande ideia do fortalecimento do multilateralismo e joga por terra muitas vezes o respeito à soberania dos países que nós temos que ter”, afirmou Lula no encontro.
De acordo com o presidente brasileiro, a visita tem por objetivo “estreitar e refazer, com muito mais força, a nossa construção de parceria estratégica”. Ele afirmou que há interesses políticos, comerciais e científico-tecnológicos com a Rússia, enquanto Moscou “deve ter muitos interesses com o Brasil”.
Também lembrou que o fluxo comercial entre os dois países é deficitário, na ordem US$ 12,5 bilhões, mas sinalizou o potencial de crescimento. “Somos duas grandes nações em continentes opostos, fazemos parte do Sul Global e temos a chance de, nesse momento histórico, a gente poder fazer com que a nossa relação comercial ela possa crescer muito”, declarou.
Acordos possíveis
Lula permanecerá na Rússia até o sábado, 10, e depois parte para uma visita de Estado à China, onde também comparecerá ao Fórum China-Celac. De acordo com a agência de notícias estatal russa Tass, durante as negociações com o Kremlin, o lado brasileiro deve propor a criação de uma joint venture que atuará na “exploração e desenvolvimento de depósitos de urânio”. O acordo deve ser assinado pela Tenex, subsidiária da Rosatom, e pela empresa brasileira Núcleo Brasil.
Membros da delegação brasileira também estão atrás de acordos com a Novatek, maior produtora independente de gás natural da Rússia. Outro tratado deve conter entendimentos sobre a criação de empresas conjuntas no Brasil para a produção de fertilizantes, material que é importante exportação russa para a agricultura brasileira. Ampliar a cooperação nas áreas de mineração e energia também está na pauta.
Críticos do petista e políticos da oposição questionaram a participação do presidente em um evento utilizado como propaganda política de Putin, desgastado na comunidade internacional pelos mais de três anos de guerra com a Ucrânia.