Lula chama Boric de juvenil e apressado por cobrar postura contra a Rússia
Presidente chileno queria mais ênfase na condenação do invasor da Ucrânia no comunicado final da cúpula Celac-UE
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chamou o líder chileno, Gabriel Boric, nesta quarta-feira, 19, de jovem “sequioso e apressado” por criticar a postura de nações da América Latina que não concordaram em condenar a Rússia por sua guerra na Ucrânia no comunicado final da cúpula Celac-União Europeia, que acabou na terça-feira 18, em Bruxelas.
Na declaração conjunta entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia, os países que participaram da reunião expressam “profunda preocupação” com a guerra da Ucrânia, mas não citam nem a Rússia nem seu líder, Vladimir Putin, como desejavam o bloco europeu e alguns líderes latino-americanos, como o presidente chileno.
“Não tenho por que concordar com essa visão dele. A reunião foi extraordinária. Possivelmente, a falta de costume de participar dessas reuniões faz com que o jovem seja mais sequioso, mais apressado. Mas as coisas acontecem assim”, disse Lula em entrevista coletiva nesta quarta-feira. O petista tem 77 anos, enquanto Boric tem 37.
“Já tive essa pressa. No primeiro ano de mandato, eu ia para reuniões do G7 e queria que as coisas fossem decididas ali, naquela hora. Mas [na cúpula da Celac-UE] a gente estava discutindo a posição de 60 países. E, portanto, a gente tem que compreender que nem todo mundo concorda com a gente. Ele tem um pouco mais de ansiedade que os outros”, continuou Lula.
Na véspera, Boric pediu que os líderes da Celac sejam mais enfáticos ao condenar a invasão russa contra a Ucrânia.
“Creio que é importante que nós da América Latina digamos claramente: o que acontece na Ucrânia é uma guerra de agressão imperialista, inaceitável, em que se viola o direito internacional. Entendo que a declaração conjunta está travada hoje em dia porque alguns não querem dizer que a guerra é contra a Ucrânia”, disse o presidente chileno.
“Estimados colegas, hoje é a Ucrânia e amanhã pode ser qualquer um de nós. Não duvidemos disso devido à complacência que se pode ter em um momento ou outro com qualquer líder. Não importa se gostamos ou não do presidente de outro país. O importante é o respeito ao direito internacional, que foi claramente violado aqui por uma parte que é invasora, a Rússia”, prosseguiu.
Já o petista acredita que a condição crucial para a paz na Ucrânia é o fim das hostilidades, um cessar-fogo, e para isso seria preciso manter um canal de diálogo aberto também com a Rússia.
“Enquanto tiver tiro não tem conversa”, disse ele. “O que nós queremos é que pare a guerra. Depois que parar a guerra, senta-se numa mesa e discute.”
Por outro lado, admitiu que a União Europeia tem razão em estar nervosa em relação à guerra, já que o conflito está bem mais próximo de seus membros do que das nações latino-americanas.
“Mas é exatamente pela distância que a gente pode ter a tranquilidade de não entrar no clima que estão os europeus, e tentar criar um clima de construir a paz”, acrescentou.