Livre, Julian Assange chega à Austrália após acordo judicial com EUA
Preso desde 2019, fundador do WikiLeaks foi condenado a cumprir pena depois de se declarar culpado de de conspiração
O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, voltou para casa, na Austrália, como um homem livre nesta quarta-feira, 26, depois de se declarar culpado em um acordo judicial que encerrou uma longa batalha nos tribunais sobre a publicação de segredos militares dos Estados Unidos.
O avião onde viajava pousou na capital australiana, Camberra, às 19h37 da hora local (6h37 em Brasília), segundo a plataforma de rastreamento de voo Flightradar24. O jornalista havia deixado o Reino Unido, onde passou mais de cinco anos na prisão enquanto lutava contra a extradição para os Estados Unidos em tribunais, na segunda-feira. Na chegada, abraçou a esposa e o pai e ergueu o punho cerrado em saudação à multidão de apoiadores que foi ao aeroporto recebê-lo.
“Finalmente livre”, disse o WikiLeaks em uma postagem no X, antigo Twitter.
A esposa de Assange, Stella, afirmou que o regresso do marido teve “um custo enorme”. Como ele não tinha permissão para pegar um voo comercial, agora deve ao governo australiano cerca de US$ 520 mil pelo custo do trajeto.
Uma campanha de crowdfunding, lançada por seus apoiadores, arrecadou quase US$ 400 mil na manhã desta quarta-feira.
Acordo judicial
Nesta quarta-feira, Assange, de 52 anos, foi para um tribunal nas Ilhas Marianas do Norte, uma comunidade americana a norte de Guam. Lá se declarou culpado, ao abrigo da Lei de Espionagem, de uma única acusação criminal: conspiração para obter e divulgar informações de defesa nacional. Depois, seguiu para a Austrália, país onde nasceu.
A sua confissão de culpa foi o capítulo final de uma saga jurídica que começou há mais de uma década, quando sua plataforma publicou uma série de documentos confidenciais a respeito do exército americano e da guerra no Afeganistão. Segundo Washington, a divulgação dos arquivos ameaçou a segurança do país e ajudou inimigos.
Segundo o acordo judicial revelado na segunda-feira 24, Assange foi condenado a exatos 62 meses de prisão – que já cumpriu no Reino Unido. As autoridades australianas há muito pressionam os Estados Unidos para que abandonassem a busca pela extradição do jornalista, ou que encontrassem uma solução diplomática que permitisse sua volta para a Austrália.
“Queríamos que ele fosse trazido para casa. Esta noite isso aconteceu”, disse o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, a repórteres pouco depois da chegada de Assange. “Este é o culminar de uma defesa cuidadosa, paciente e determinada.”
O caso do WikiLeaks
Anteriormente, Assange havia sido indiciado por 17 acusações de espionagem e uma acusação de uso indevido de computador, tudo em conexão com publicações do WikiLeaks, plataforma que ele fundou em 2006.
O site vazou cerca de 250 mil telegramas diplomáticos do Departamento de Estado, bem como documentos militares confidenciais dos Estados Unidos e vídeos das guerras americanas no Iraque e no Afeganistão. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos disse que esse foi “um dos maiores comprometimentos de informações confidenciais na história” do país.
Os problemas jurídicos começaram em 2010, quando foi preso em Londres a pedido da Suécia, que queria interrogá-lo sobre alegações de abuso sexual feitas por duas mulheres. Em 2012, depois de ter sido extraditado para a Suécia, obteve asilo político da Embaixada do Equador em Londres, onde viveu durante quase sete anos.
A embaixada revogou o asilo político de Assange em 2019, levando à sua prisão. Embora os promotores suecos tenham desistido da investigação no final daquele ano, os Estados Unidos fizeram um pedido formal de extradição – contra o qual Assange passou cinco anos lutando na prisão de alta segurança de Belmarsh, nos arredores de Londres.