Marina Villén.
Cairo, 12 nov (EFE).- A Liga Árabe confirmou neste sábado a retirada da Síria da organização e pediu novas sanções econômicas e políticas contra o regime de Bashar al Assad, que considerou tal decisão como ‘nula’ e baseada em interesses americanos.
A medida, que era a principal reivindicação da oposição ao regime de Assad, foi adotada pela organização após uma reunião extraordinária envolvendo os ministros das Relações Exteriores árabes. O encontro foi realizado na própria sede da Liga, no Cairo.
Em entrevista coletiva, o primeiro-ministro e chanceler do Catar, Hamad bin Jassim al Thani, disse que a medida foi adotada porque ‘não houve uma resposta total e imediata da Síria ao plano árabe’, que exigia o fim da repressão aos civis.
Thani, que é também o presidente rotativo do Conselho da Liga Árabe, afirmou que a organização pediu ainda a retirada dos embaixadores dos países árabes na Síria. Segundo ele, uma nova reunião com a oposição síria deverá ser realizada nos próximos dias no Cairo.
Além das medidas citadas, a resolução busca oferecer ‘proteção aos civis sírios através de uma ação envolvendo as organizações de direitos humanos e a ONU’, embora Thani tenha afirmado que a entidade rejeita a intervenção estrangeira para adotar ‘uma solução árabe’.
‘Nós não falamos sobre armar (a oposição) e nem sobre zona de exclusão aérea’, afirmou, em referência às medidas internacionais adotadas contra o regime do ex-líder líbio, Muammar Kadafi.
A resolução será aplicada a partir do dia 16, mas ainda não é definitiva. Isso porque, neste mesmo dia, os chanceleres árabes deverão organizar uma nova uma reunião, em Rabat, para avaliar se o governo de Assad mudou de atitude e passou a cumprir as exigências do plano árabe.
Neste sentido, o secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al Arabi, expressou sua esperança em ‘acabar com a violência nos próximos quatro dias’. Porém, Al Arabi afirmou que, uma vez em vigor, ‘as resoluções serão mantidas até que acabem a violência e os assassinatos na Síria’.
A resposta de Damasco não demorou a chegar, e o representante da Síria na Liga Árabe, Youssef Ahmed, declarou que essa resolução é ‘nula’, já que a decisão não contou com o apoio de todos os Estados-membros, como aparece no regulamento da organização.
A resolução foi aprovada por 18 dos 22 membros da Liga Árabe, com um voto contra do Líbano e do Iêmen, além de uma abstenção do Iraque.
‘Há setores árabes que estão a serviço dos planos dos Estados Unidos’, declarou Ahmed, que reiterou que a decisão deste sábado ‘não significa nada para a Síria’.
Durante seu discurso prévio perante os ministros das Relações Exteriores árabes, o representante sírio assegurou que seu país cumpre todos os compromissos com o plano árabe, e acusou a oposição de tentar fragilizar as tentativas para tirar o país da crise.
‘O sucesso do plano árabe não só está vinculado à postura do governo sírio, mas também à dos grupos armados no interior e à dos setores da oposição no exterior’, disse.
Já o líder da plataforma opositora Conselho Nacional Sírio (CNS), Abu Ahad Astifo, afirmou à Agência Efe que a decisão de retirar a Síria da Liga Árabe aumenta a esperança dos opositores a Assad.
‘Estamos satisfeitos porque agora a oposição terá o respaldo da Liga Árabe’, afirmou Astifo, que disse que não espera ‘nada em absoluto do governo sírio’.
O dirigente do CNS lembrou que a oposição sempre disse que o regime não iria cumprir as exigências da Liga Árabe para sair da crise, e que sua aprovação, no último dia 2, foi ‘uma manobra para ganhar tempo’.
Nesta ocasião, os países árabes ouviram a voz da oposição síria, que nos últimos dias chegou a se reunir com Arabi. Do lado de fora da sede da Liga Árabe, algumas pessoas ligadas à oposição realizaram um protesto neste sábado para exigir a adoção de medidas contundentes contra o regime de Assad.
A manifestação contou com a presença de mais de cem pessoas, que se concentraram no local com cartazes e fotos que buscavam manter viva a lembrança das mais de 3,5 mil pessoas que morreram na Síria desde o início da revolta, no mês de março.
O opositor Deia Adin Dogmosh, que fugiu da Síria após ser detido em várias ocasiões, disse à Efe que essa suspensão ‘vai encorajar o Conselho de Segurança da ONU a se mostrar mais firme contra o regime de Al-Assad’.
Embora essa resolução crie esperança nos opositores, a Síria segue imersa em uma espiral de violência. Neste sábado, pelo menos dez civis e nove membros das forças de segurança morreram em confrontos. EFE