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Lei que mudou a história dos negros dos EUA faz 50 anos

A lei que acabou com a segregação racial, assinada em 1964 pelo presidente Lyndon B. Johnson, foi fruto de muita luta dos negros e dos movimentos civis

Por Da Redação
2 jul 2014, 08h12

Nesta quarta-feira, 2 de julho, a lei de Direitos Civis que proibiu a discriminação racial nos Estados Unidos completa meio século de existência. Foi uma das maiores conquistas do movimento civil por direitos através da mudança da legislação, uma ação pacífica que contou com líderes como Martin Luther King e Rosa Parks. Um simples ‘não’ de Rosa Parks mudou a história dos EUA. Rosa, a mulher negra que se reergueu ao se sentar, a costureira de Montgomery que se negou em 1955 a ceder seu lugar no ônibus a um branco, é um dos símbolos do movimento que deixou a comunidade negra americana mais perto da igualdade.

No segregado sul do país, os negros nasciam em hospitais separados e eram enterrados em áreas diferentes, após uma vida em que não podiam estudar nas escolas para brancos, nem viajar em seus assentos, nem comer em seus restaurantes, nem usar o mesmo banheiro público. Os pais de Linda Brown, uma menina de sete anos do Kansas, não entendiam por que sua filha precisava viajar diariamente até uma afastada escola para negros se dispunham de um centro público reputado em seu mesmo bairro. Era para brancos.

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Os tribunais menores ignoraram várias queixas semelhantes no sul racista, mas o caso dos Brown chegou ao Supremo Tribunal e a máxima instância judicial lhes deu a razão: haver escolas só para brancos e outras só para negros era inconstitucional. A decisão judicial de 1954 foi “um elo crítico para o movimento de direitos civis moderno”, analisa seis décadas depois o professor Howard Robinson, do Centro Nacional para o estudo dos Direitos Civis, situado no Alabama. O estado do sudeste dos Estados Unidos tinha nos anos 1950 uma das políticas mais discriminatórias contra os negros e liderou as queixas para obter a mudança.

Apenas quatro dias depois da histórica resolução judicial, uma ativista de Montgomery, no estado do Alabama, Jo Ann Robinson, escreveu uma carta ao prefeito da cidade. Era 1954 e o movimento pela equidade já não tinha volta. A ativista pedia ao prefeito que acabasse com os ônibus urbanos segregados. Os negros, que representavam 75% dos usuários, precisavam pagar na parte dianteira, voltar a sair, subir pela porta traseira e sentar-se apenas nas áreas indicadas para as pessoas ‘de cor’.

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Rosa Parks não foi a primeira mulher de Montgomery a protestar, mas a que somou a determinação e a liderança necessárias para fazer história. “Foi uma catalisadora da mudança”, conta Georgette Norman, diretora do museu dedicado à costureira “silenciosa e forte que não queria bustos nem homenagens”. “Ela era a pessoa que precisava começar o protesto, alguém de quem não se podia falar mal nem encontrar nenhuma falha que diminuísse a atenção ao assunto”, avalia a diretora do centro, que fica na mesma calçada de Montgomery na qual Parks, em 1º de dezembro de 1955, foi obrigada a descer do ônibus e detida.

O boicote – A comunidade soube que aquele era o momento e começou um boicote para que nenhum operário negro e nenhuma empregada fossem trabalhar de ônibus: eles caminhavam horas sob o sol. “Estamos cansados de ficar segregados e humilhados. Não temos alternativa a não ser protestar”, proclamou em uma igreja a seis ruas do ‘não’ de Rosa Parks um carismático e articulado pastor recém-chegado à cidade e que se tornou o líder do boicote. Era Martin Luther King Jr. “Foi um sucesso e quase 50.000 pessoas se somaram ao boicote”, explica Wanda Battle, filha de amigos próximos do reverendo King.

O protesto, que durou 381 dias, culminou com uma resolução do Tribunal Supremo que tornou ilegal os ônibus segregados na cidade e somou uma nova conquista na cruzada contra a segregação sulina. Em pouco mais de uma década, os negros conseguiram que a Justiça acabasse com as escolas segregadas e os trabalhos reservados aos brancos. Em 2 de julho de 1964, Lyndon B. Johnson, o vice-presidente que assumiu após o assassinado presidente Kennedy, sancionou a lei que acabou com a discriminação no espaço público dos Estados Unidos.

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Apesar da filosofia de não-violência, King enfrentou uma década muito conturbada e testemunhou como os grupos racistas radicalizaram e dezenas de ativistas negros morreram assassinados. O líder foi testemunha das grandes mudanças legislativas e premiado com o Nobel da Paz, mas também acabaria morto com um tiro em 1968, aos 39 anos. “Durante dias, o tempo e a respiração de todos nós pararam”, lembra Wanda, que na época tinha 12 anos e brincava com os filhos do pastor. “Mas o movimento segue vivo para lutar contra as injustiças”, acrescenta, antes de começar a cantar uma das famosas canções da época que mudou Wanda e mudou todo o país.

(Com agência EFE)

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