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Jo Johnson, o irmão silencioso que “apunhala” primeiro-ministro britânico

Sério e com cabelos penteados, caçula já aviltara Boris ao votar contra o Brexit, em 2016, e ao aderir ao governo de David Cameron três antes antes

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 5 set 2019, 17h06 - Publicado em 5 set 2019, 16h37

Poderia ter sido uma obra de William Shakespeare, na qual o irmão mais novo apunhala o primogênito em um ato de lealdade à sua própria consciência. Mas o dramaturgo inglês não deixou obra similar e não houve um gota sequer de sangue na saída de Jo Johnson do gabinete de seu irmão e primeiro-ministro britânico, Boris, nesta quinta-feira, 5. A cena pareceu mais um tiro de misericórdia mal dado no agonizante chefe de governo, abandonado por 21 aliados e agora sem maioria conservadora no Parlamento.

A demissão de Joseph Edmund Johnson, 47 anos, alimenta as dúvidas sobre o porque de ter sido convidado por seu irmão Boris para ser o ministro de Indústria e Comércio há 43 dias – e sobre o porque de ter aceitado. O episódio também pode abre uma infindável discussão, a ser acompanhada nos tabloides britânicos, sobre a origem da rivalidade e as identidades dos irmãos na cena política de Londres, resumida na expressão “BoJo versus JoJo”.

FILE PHOTO: Britain’s Conservative MP Jo Johnson arrives at Downing Street, in London
O ministro Jo Johnson ao chegar a Downing Street no primeiro dia de governo do irmão: 43 dias de nepotismo – 24/07/2019 (Hannah Mckay/Reuters)

Jo Johnson entrou na política em 2010, aos 36 anos, como deputado do Partido Conservador eleito pelo distrito de Orpington, periferia chique no sudeste de Londres. Havia antes seguido os passos do irmão mais velho no jornalismo. Ingressara no Financial Times em 1997 e fora correspondente na Índia do jornal econômico inglês. Mas, em 2013, contra todas as expectativas do tempestuoso Boris, então prefeito de Londres, Jo ingressou no gabinete do primeiro-ministro David Cameron. Boris era visto como o potencial sucessor de Cameron, e ambos não tinham convivência amigável na seara conservadora.

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A decisão de aceitar o convite de Cameron foi a primeira estocada do caçula no mais velho, mas não a pior delas. Em artigo no jornal The Guardian da época, Sonia Purcell, autora da biografia Just Boris: A Tale of Bond Ambition, afirmou que o então prefeito de Londres fizera piadas sobre a nova posição de Jo em Downing Street 10.

“Mas esta não foi a primeira vez que Jo reverteu a ordem fraterna natural das coisas. E Boris não gosta de ser superado. Jo conseguiu ser o primeiro a entrar na (Universidade de) Oxford, uma conquista tão dolorosa para Boris que a irmã deles, Rachel, hesitou em dar-lhe a ‘notícia terrível'”.

Mas grave terá sido a oposição de Jo Johnson à proposta de saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit, em cuja campanha Boris Johnson se engajou de corpo e alma. Jo não estava sozinho em sua aversão ao divórcio – a irmã Rachel e o pai, Stanley, o acompanharam, o que isolou Boris na família. No referendo de 2016, porém, o atual primeiro-ministro levou a melhor. Em ato de claro revanche, Jo Johnson passou a defender a realização do segundo referendo.

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“Eu acredito que é totalmente correto voltar ao povo e lhe perguntar se confirma sua decisão de deixar a União Europeia”, declarou Jo na época.

Em 2013, quando a rivalidade política entre os Johnson germinava, o jornalista e escritor Tim Dowling escreveu no Guardian um artigo no qual mencionou a parceria entre os outros dois irmãos britânicos, David e Ed Miliband, nas últimas duas décadas, e entre os  gêmeos Lech e Jaroslav Kaczynski, na Polônia. No texto, Dowling mostrou-se cético sobre uma futura convivência de Boris e Jo em um mesmo governo.

“É improvável que esse nepotismo possa algum dia existir na política britânica. Iria requerer muita confiança”, concluiu. “Um acordo entre os irmãos (…)  pode dar terrivelmente errado. Ou pior, pode dar horrivelmente certo.”

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O improvável aconteceu há 43 dias, quando Boris chamou Jo para seu gabinete. Segundo o Guardian, seu retorno ao gabinete de ministros havia feito seus colegas parlamentares “levantarem suas sobrancelhas”, o clássico sinal de empáfia e desconfiança entre os ingleses. Afinal, ele fora também ministro de Universidades e Ciências de Theresa May, mas renunciou em novembro de 2018 acusando a primeira-ministra de forçar os parlamentares escolherem entre a “vassalagem e o caos”, com seu acordo sobre o Brexit. Se fizeram isso com May, o que poderia fazer com o irmão mais velho?

A tentativa de parceria também deu “terrivelmente errado”, pelo menos para o primogênito. Jo Johnson citou a “tensão insolúvel” entre a lealdade a sua família – ou melhor, a seu irmão primeiro-ministro – e o interesse nacional para justificar sua demissão, depois de ter mantido uma conversa tensa com o primogênito pelo telefone.

O tabloide The Sun diz que Boris implorou para Jo ficar no governo. Obviamente, o comunicado de Downing Street não refletiu o tom da discussão. “O primeiro-ministro, como político e irmão, compreende que isso não deve ter sido um assunto fácil para Jo. Os eleitores de Orpington não poderiam ter escolhido um melhor representante.”

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FILE PHOTO: Boris Johnson’s family await announcement of his election as party leadernister is announced in London
Stanley (esq.) e seus Rachel e Jo Johnson (dir.) aguardam ao anúncio de Boris como líder dos conservadores no Parlamento: três votos contra o Brexit – 23/07/2019 (Stefan Rousseau/Reuters)

 

Rolex

Sete anos mais novo que Boris, Jo recebeu a mesma educação de elite do irmão. Nos seus tempos em Oxford, participou do Bullingdon Club, um clube exclusivo e secreto de estudantes ricos da universidade que se encontram em rituais e jantares – traje black-tie obrigatório. Cameron e Boris também foram membros. Entre os colegas de Jo estavam  Nathanael Rothschild, co-presidente da Atticus Capital e membro da tradicional família de banqueiros, e Oliver Osborne, jornalista e ex-parlamentar.

Jo Johnson também foi nomeado no início da década como chanceler do Tesouro Real. Uma olhada em seu perfil no Twitter rende a sugestão de seguir o perfil da Rolex, a fabricante suíça de relógios cujos ponteiros dos segundos correm sem pausas. Ao contrário do irmão, traz os fios loiros e finos sempre penteados.

Ambos os meninos e Rachel são filhos do escritor ambientalista e ex-parlamentar europeu Stanley Johnson e da artista plástica Charlotte Johnson Wahl. Segundo Sonia Purcell, enquanto Boris e Stanley “atuavam como machos-alfa, Jo era do tipo que havia aprendido a ficar em silêncio e a assistir ao triunfo do irmão”.

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BRITAIN-EU-POLITICS-BREXIT-POLICE
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson: sem maioria no Parlamento, sem irmão no gabinete. (Danny Lawson/AFP)

Esse comportamento terá se mantido até, pelo menos, o caçula ser chamado por Cameron a seu gabinete com a missão de buscar novas ideias para revigorar o governo e de reconectá-lo aos parlamentares conservadores.

“Diferentemente de seu irmão, ele se mostra muito sério. Um parlamentar me contou que Jo é tão obsessivo em se diferenciar do irmão que corre o perigo de se tornar um rapaz chato. Ele gosta mais de política do que de espetáculos, e não há espaço para fofocas em sua vida pessoal”, escreveu Purcell.

Até o momento, realmente não surgiu escândalo na vida pessoal de Jo como o mais recente noticiado sobre Boris – sua briga com a namorada Carrie Symonds, de 31 anos, agora primeira-dama do Reino Unido, que resultou em uma chamada dos vizinhos à Scotland Yard. Joseph Edmund Johnson é casado com Amelia Gentleman, repórter do jornal The Guardian que venceu Prêmio de Jornalismo Britânico de 2018 com uma reportagem sobre o Escândalo Windrush, sobre 83 casos de pessoas de origem caribenha detidas ilegalmente pela polícia britânica e ameaçadas de deportação. O casal tem dois filhos.

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