Javier Milei abre caminho rumo à Casa Rosada na base da motosserra
Trata-se de uma metáfora bem ao histriônico estilo do político para mostrar seu ímpeto de botar abaixo tudo o que é identificado como status quo

Favorito na corrida presidencial argentina, o anarcocapitalista, como ele próprio se define, Javier Milei vai abrindo caminho rumo à Casa Rosada na base da motosserra, literalmente. E assim fez numa carreata nas cercanias de Buenos Aires, empunhando a ferramenta adotada como símbolo de campanha. É uma metáfora bem ao histriônico estilo Milei para mostrar seu ímpeto de botar abaixo tudo o que é identificado como status quo. A lista é extensa — vai de impostos, gastos do governo e políticos chorros (ladrões) ao sistema público de educação, o Banco Central e a própria moeda do país, que ele quer trocar pelo dólar. “Viva a liberdade, carajo!”, bradou em meio a apoiadores, que já sabem: o ápice de suas aparições é quando agita a tal máquina sobre a cabeça. Os atos são particularmente efusivos nas províncias, já que o interior conservador e agrário foi quem assegurou as votações mais expressivas à extrema direita nas prévias de agosto. Todas as pesquisas de opinião vêm colocando Milei na dianteira, à frente do postulante peronista, o atual ministro da Economia, Sergio Massa, e da representante da ala macrista, Patricia Bullrich — isso tanto no primeiro turno da eleição, em 22 de outubro, como numa eventual segunda rodada, em novembro. Conhecido por exóticas idiossincrasias (fala com um cão morto por meio de médiuns, é adepto do sexo tântrico), Milei e seu “plano motosserra” ainda não esbarraram com nenhum lance de marketing à altura no campo adversário. Com a inflação em disparada e a pobreza se alastrando, os argentinos parecem dispostos a apostar no político demolidor. Resta saber o que ele pretende fazer para reconstruir uma nação sugada por crises.
Publicado em VEJA de 29 de setembro de 2023, edição nº 2861