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Irã vai insistir em ter programa nuclear e só volta a negociar com promessa dos EUA, diz ministro

Em entrevista à emissora britânica BBC, vice-ministro das Relações Exteriores iraniano chamou o que foi posto à mesa até agora de 'lei da selva'

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 30 jun 2025, 11h04

O vice-ministro das Relações Exteriores do Irã, Majid Takht-Ravanchi, afirmou no domingo 29 que o país “vai insistir” em ter um programa nuclear, uma semana após o cessar-fogo que pôs fim ao conflito com Israel que teve no cerne a suspeita de que Teerã está perto de construir uma bomba atômica. Em entrevista à emissora britânica BBC, o ministro iraniano afirmou ainda que só voltará à mesa de negociações se os Estados Unidos se comprometerem a não atacar o Irã novamente, depois do presidente Donald Trump informar que queria retomar as conversas nesta semana.

Washington e Teerã estavam envolvidos em negociações sobre o programa iraniano – na tentativa de podar as ambições nucleares dos aiatolás em troca do levantamento de sanções e outros alívios econômicos – quando Israel atacou instalações de enriquecimento de urânio e infraestruturas militares no Irã no início deste mês. A República Islâmica respondeu com uma salva de mísseis, no que tornou-se uma intensa guerra aérea de doze dias. Os Estados Unidos se envolveram diretamente no conflito em 21 de junho, quando bombardearam três instalações nucleares iranianas: Fordo, Natanz e Isfahan.

Takht-Ravanchi sublinhou que o Irã “insistirá” em poder enriquecer urânio para fins pacíficos, rejeitando as acusações de que estaria secretamente se mobilizando para desenvolver uma bomba nuclear.

“O nível (do enriquecimento) pode ser discutido, a capacidade pode ser discutida, mas dizer que não podemos ter enriquecimento, enriquecimento zero, e se não concordar, nós o bombardearemos — essa é a lei da selva”, disse o vice-ministro das Relações Exteriores.

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Takht-Ravanchi afirmou não poder fornecer uma avaliação exata sobre a extensão dos danos causados ​​ao programa iraniano, que ainda não está clara. No domingo, Rafael Grossi, chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), afirmou que Teerã poderia voltar a enriquecer urânio em “questão de meses”, enquanto Trump sustenta que a indústria nuclear do Irã foi “totalmente obliterada”. O ministro disse à BBC que não há previsão exata para o retorno das atividades nas plantas atingidas por ataques.

Ao menos 935 iranianos, a maioria civis, foram mortos nos doze dias de conflito. Em Israel, 28 pessoas foram mortas.

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Negociações

Takht-Ravanchi afirmou que não há data marcada para um possível retorno às negociações. Ele também disse desconhecer o que estaria na pauta, após Trump sugerir que as discussões poderiam ser retomadas ainda nesta semana.

“Neste momento, estamos buscando uma resposta para esta pergunta: veremos a repetição de um ato de agressão enquanto dialogamos?”, questionou o vice-ministro, acrescentando que Washington precisa ser “bastante clara sobre esta questão tão importante” – novos ataques – e “o que eles vão nos oferecer para gerar a confiança necessária para tal diálogo”.

Apesar de ter falado em voltar à diplomacia, Trump afirmou que “absolutamente” consideraria bombardear o Irã novamente caso agências de inteligência descobrissem que o país poderia enriquecer urânio a níveis preocupantes. Enquanto isso, o relacionamento do Irã com a AIEA tem ficado cada vez mais tenso. Na última quarta-feira, o parlamento iraniano decidiu suspender a cooperação com a agência de vigilância atômica das Nações Unidas, acusando o órgão de se aliar a Israel e aos Estados Unidos, o que deve dificultar tratativas.

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Questionado se o Irã poderia repensar seu programa nuclear como parte de qualquer acordo, possivelmente em troca do alívio de sanções e investimentos no país, Takht-Ravanchi respondeu: “Por que deveríamos concordar com tal proposta?” – e reiterou que o programa do Irã, incluindo o enriquecimento de urânio a 60%, era “para fins pacíficos”.

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Por fim, disse que “não estava totalmente claro” se o cessar-fogo com Israel duraria, mas que o Irã continuaria a sustentá-lo “enquanto não houver ataque militar contra nós”.

“Não queremos guerra. Queremos dialogar e fazer diplomacia, mas temos que estar preparados, temos que ser cautelosos, para não sermos surpreendidos novamente”, declarou à BBC.

Acordo nuclear

Em 2015, um pacto abrangente foi firmado pelos Estados Unidos e outras nações com o Irã, que autorizava o país a manter até 300 quilos de urânio enriquecido a no máximo 3,67% de pureza, limite adequado para fins civis, como geração de energia e pesquisa, mas muito abaixo dos 90% necessários para a fabricação de armas nucleares.

Trump, porém, saiu do acordo unilateralmente em 2018. Segundo analistas, o movimento fez os iranianos acelerarem o avanço de seu programa nuclear, instalando milhares de centrífugas avançadas para enriquecer urânio.

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No início de junho, a Agência Internacional de Energia Atômica, denunciou pela primeira vez em vinte anos que a nação islâmica violou o tratado de não-proliferação do qual é signatária, após divulgar um relatório alarmante, segundo o qual o Irã já acumulava cerca de 400 quilos de urânio enriquecido a 60% (pré-conflito).

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Esse material poderia ser convertido em grau militar em apenas uma semana e seria suficiente para produzir até nove ogivas nucleares — embora a construção de uma bomba funcional, a toque de caixa, devesse levar pelo menos um ano, também no cenário pré-conflito. (Teerã nega consistentemente que seu objetivo seja obter uma arma nuclear).

Em seu segundo mandato, Trump voltou a apostar na diplomacia, mas uma nova série de negociações entre o Irã e os Estados Unidos fracassou quando Israel lançou a chamada Operação Leão em Ascensão, que mirou instalações nucleares e capacidades balísticas do Irã, em 13 de junho. O presidente americano, depois de alternar entre ameaçar Teerã e instar o país a voltar à mesa de negociações, se juntou à campanha israelense.

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