Imprensa internacional repercute discurso de Bolsonaro
Jornais compararam atitude do presidente brasileiro sobre a pandemia com a de líderes como Donald Trump e Daniel Ortega, da Nicarágua
Em pronunciamento nacional sobre o coronavírus na noite desta terça-feira 24 Jair Bolsonaro criticou a imprensa, repreendeu governadores e classificou a doença novamente como “histeria” e “resfriadinho”. As palavras do presidente brasileiro chamaram a atenção da imprensa internacional por irem na contramão de tudo que as autoridades de saúde e os demais líderes mundiais têm pregado em seus países.
O jornal britânico de The Guardian classificou o discurso como “incendiário”. “O discurso foi péssimo para muitos críticos de Bolsonaro que acreditam que sua resposta ao coronavírus será o fim de sua carreira política”, afirma o artigo, que ainda usa um tom irônico ao relatar que o chefe de Estado negou a possibilidade de ser atingido de forma dramática pela Covid-19, pelo seu “histórico de atleta”.
Já o jornal The New York Times reproduziu artigos das agências de notícia Reuters e Associated Press que enfatizaram a intenção do presidente brasileiro de minimizar o poder do vírus. “Bolsonaro tem enfrentado críticas crescentes por sua atitude descuidada com relação ao vírus, que ele considerou uma ‘fantasia’ e uma ‘gripezinha’, apesar de já ter infectado mais de 300.000 pessoas em todo o mundo e matado dezenas de milhares”.
O argentino Clarín relatou que o pronunciamento de Bolsonaro foi acompanhado em muitas cidades brasileiras de protestos em forma de panelaços. “Enquanto Bolsonaro falava, enormes panelaços contra ele ocorreram em Brasília, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte, Salvador e São Paulo, de acordo com diferentes relatos feitos ao Clarín. Os protestos foram acompanhados por gritos de ‘Fora Bolsonaro'”, diz o jornal.
Para o periódico espanhol El País há um “abandono institucional” em toda a América Latina que pode agravar a crise provocada pelo coronavírus. Segundo o jornal, Bolsonaro está envolvido em uma “briga política” com os governadores João Doria (PSDB) e Wilson Witzel (PSC), de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente, e “minimiza os riscos da pandemia”.
“E os riscos são gigantescos. As declarações oficiais – mais ou menos forçadas – de que possui recursos suficientes para combater o tsunami são difíceis de aceitar”, afirma o artigo, que ainda classifica a atitude de Bolsonaro como a pior entre todos os líderes sul-americanos.
A emissora CNN também compara o presidente brasileiro com outros chefes de Estado em um texto publicado em seu site. Para o canal de notícias americano, além de Bolsonaro, líderes como o mexicano Andres Manuél Lopez Obrador e o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, estão arriscando muito ao menosprezar os danos que a pandemia pode causar. O artigo, contudo, afirma que “muitos brasileiros não estão comprando o discurso de Bolsonaro” e estão protestando das janelas e sacadas de suas casas.
Já o jornal americano The Washington Post relaciona a política do líder brasileiro com a aplicada por Donald Trump nos Estados Unidos. Assim como Bolsonaro, o republicano também afirmou que o impacto econômico de isolar o país pode ser mais danoso do que o próprio vírus, e afirmou que pretende restabelecer as atividades normais em território americano até 12 de abril.
“Tanto Trump quanto Bolsonaro estão frustrados com as medidas que estão sendo adotadas em seus países para conter a propagação do vírus. Eles temem os impactos dessas políticas na economia e em seus futuros políticos”, diz o jornal.