Hamas diz não ter ideia de quantos reféns israelenses ainda estão vivos
Libertação de sequestrados é parte vital de negociações para um cessar-fogo em Gaza
Apesar de negociações para um cessar-fogo em Gaza incluírem a libertação de 120 reféns israelenses, “ninguém tem ideia” e quantos deles estão vivos, afirmou Osama Hamdan, porta-voz do grupo militante palestino Hamas e membro do gabinete político, em entrevista à rede americana CNN publicada nesta sexta-feira, 14.
No começo do mês. Israel estimou que que mais de um terço dos reféns mantidos pelo Hamas na Faixa de Gaza estão mortos. Acredita-se que ao menos 250 pessoas foram sequestradas em 7 de outubro, primeiro dia de guerra, e 120 ainda permanecem em cativeiro. Entre elas, 43 teriam sido mortas pelos militantes, de acordo com fontes do governo israelense. Mas o número de vítimas, segundo as autoridades, pode ser ainda maior, dada a falta de informação sobre o estado de saúde dos reféns.
Membros do Hamas argumentam que as mortes foram provocadas por bombardeios ao enclave palestino. Por lá, mais de 36 mil pessoas foram mortas por ataques israelenses desde a eclosão do conflito. Israel, por sua vez, rejeita a versão e alega que corpos recuperados em operações apresentavam sinais de execução. No último mês, as tropas de Tel Aviv encontraram três corpos em Jabalia, ao norte da Faixa, incluindo o do israelo-brasileiro Michel Nisembaum, de 59 anos. Ele estava desaparecido desde 7 de outubro.
Na última e única trégua, ocorrida em novembro do ano passado, 105 cativos e 240 palestinos mantidos em prisões israelenses foram libertados.
Acordo de cessar-fogo
Falando à CNN na capital libanesa, Beirute, Hamdan disse que a última proposta colocada em negociação – um plano israelense que foi anunciado publicamente pela primeira vez pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, no final do mês passado – não atendeu às demandas do grupo para o fim da guerra.
As negociações chegaram a um impasse na quarta-feira, depois de o Hamas ter apresentado respostas ao documento. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, afirmou o grupo propôs “inúmeras mudanças” ao plano de cessar-fogo em Gaza aprovado pelas Nações Unidas. De acordo com ele, alguns dos pedidos eram “viáveis” e outros não, mas que os EUA, Catar e Egito tentariam selar o acordo durante uma nova rodada de negociações.
O acordo é previsto para ter três fases, sendo a primeira com as seguinte demandas: cessar-fogo absoluto por seis semanas, retirada das forças Israel das áreas habitadas por civis na Faixa de Gaza e libertação dos reféns sequestrados durante o ataque de 7 de outubro. O presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou acreditar que o acordo de cessar-fogo levou à libertação dos reféns israelenses que estão em Gaza pode dar um fim a guerra que já matou mais de 37 mil palestinos.
Hamdan disse à CNN que a duração do cessar-fogo era uma questão fundamental para o Hamas, que está preocupado com o fato de Israel não ter intenção de prosseguir com a segunda fase do acordo. O fim das hostilidades deve ser permanente, disse ele, e Israel deve retirar-se completamente de Gaza.
Israel ainda não se comprometeu publicamente com o acordo, embora a Casa Branca tenha destacado repetidamente que se tratava de um plano aceito pelo governo israelense. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse repetidamente que a guerra não terminará até que Israel elimine o Hamas.
A proposta apresentada pelo governo dos EUA teve endosso do Brasil e de outros 14 países em uma declaração conjunta publicada na semana passada. “É hora de a guerra acabar e esse acordo é o ponto de partida necessário”, diz o texto, que também foi assinado pelos líderes de Alemanha, Áustria, Bulgária, Canadá, Colômbia, Dinamarca, Espanha, França, Polônia, Portugal, Reino Unido, Romênia, Sérvia e Tailândia.
Em nota, o Itamaraty afirmou que a declaração está em linha com a posição já manifestada pelo Brasil, de reiterar que “Israel e Hamas estão obrigados, por determinação da Corte Internacional de Justiça, a cessar as hostilidades em Rafah, a libertar incondicional e imediatamente os reféns e a permitir ajuda humanitária aos civis em Gaza afetados pelo conflito”.