Mais de 15.000 corpos de vítimas do terremoto que devastou o Haiti na última terça-feira já foram recolhidos e enterrados, declarou nesta sexta-feira o primeiro-ministro haitiano, Jean-Max Bellerive.
Já o ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, disse nesta sexta que não há esperança de encontrar com vida os cinco brasileiros ainda desaparecidos – quatro militares e um civil – em consequência do terremoto. “Desaparecido é o termo técnico para corpos não encontrados”, afirmou o ministro em entrevista no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio.
Jobim informou que o Brasil enviará armas não letais, principalmente as que permitem uso de balas de borracha, para ajudar no controle da violência na capital, Porto Príncipe.
Segundo o ministro, existe o risco de a situação se agravar, à medida que o tempo passa, por causa do mau cheiro que se espalha pela cidade, da fome, da sede e do desespero dos haitianos que perderam parentes na tragédia.
Jobim acrescentou que serão providenciados enterros coletivos e que haverá solenidades com autoridades católicas, evangélicas e do vodu, religião praticada no país.
O ministro disse que visitará neste sábado o centro de instrução de operações de paz, na Vila Militar, onde são treinados militares que participam das missões no Haiti e em outros países.
Pedido de ajuda – O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, pediu nesta sexta-feira à comunidade internacional que doe 550 milhões de dólares em ajuda urgente às vítimas do terremoto que devastou o Haiti.
“A maior parte deste dinheiro seria para necessidades urgentes”, afirmou o diplomata em entrevista coletiva. Ele se disse satisfeito com a “generosidade” demonstrada até agora pelo mundo. E também revelou que deve viajar ao país “muito em breve.”
Desde o tremor de terça-feira, vários países e organizações anunciaram ajuda. O Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e os Estados Unidos prometeram fornecer 100 milhões de dólares cada um. O Brasil anunciou ajuda de 15 milhões de dólares.
Tensão – Os voluntários estrangeiros que estão no Haiti para ajudar as vítimas do terremoto pediram reforço da segurança nesta sexta. Isso porque os haitianos estão cada vez mais desesperados para receber ajuda, o que pode resultar em distúrbios. O Programa de Alimentos das Nações Unidas (WFP, na sigla em inglês) já informou que seus armazéns em que estão estocados os alimentos a serem distribuídos começaram a sofrer saques.
“Em uma situação de emergência e tão desesperada como esta, os saques não são incomuns”, disse a porta-voz da WFP, Emilia Casella. Um dos depósitos saqueados era o mais importante do organismo na capital do Haiti. A WFP não soube informar quanto das 15 toneladas de alimentos armazenadas antes do terremoto ainda restam. (No vídeo abaixo, o desespero da população que está sem água e comida há três dias).
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Os militares que integram a missão de paz da ONU no país alertam para o fato de que há pessoas revoltadas com a lentidão na distribuição de suprimentos. Os militares brasileiros, inclusive, já foram avisados de que é preciso reforçar a segurança dos comboios de ajuda humanitária para evitar os saques.
Para protestar contra a demora no recebimento da ajuda humanitária, os haitianos decidiram bloquear as ruas da capital com pilhas de corpos. “Estamos aqui esperando há três dias e três noites mas nada tem sido feito por nós, nem uma palavra de incentivo do presidente”, disse Pierre Jackson, cuidando de sua mãe e irmã que choravam deitadas com as pernas esmagadas. “O que devemos fazer?”
Corpos estavam espalhados por toda a cidade, e pessoas cobriam o nariz com panos para evitar o forte odor de cadáveres em decomposição. Muitos mortos eram carregados em caminhonetes e entregues ao hospital central de Porto Príncipe.
Armas – Em entrevista na madrugada desta sexta-feira, o ministro da Defesa Nelson Jobim já havia afirmado que a segurança deveria se tornar um dos principais problemas em Porto Príncipe, capital do Haiti. “Nesse momento não existe problema de segurança. Mas no momento em que os haitianos começarem a sentir sede e fome, poderá haver distúrbios”, afirmou. O ministro descartou, por enquanto, o envio de mais tropas de combate, além do pessoal militar especializado em ajuda humanitária.
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“Infelizmente, eles estão ficando cada vez mais nervosos e impacientes”, disse David Wimhurst, porta-voz do comando brasileiro das forças de paz no país à agência de notícias Associated Press. “Eu temo porque estamos todos cientes de que a situação está ficando mais tensa à medida que as pessoas mais pobres, que necessitam desesperadamente de ajuda, estão esperando por suprimentos”, completou.
Mortos e feridos – O presidente do Haiti, René Préval, disse na quinta-feira que cerca de 7.000 corpos de vítimas já foram enterrados em uma vala comum. Préval deu a declaração enquanto acompanhava o presidente da vizinha República Dominicana, Leonel Fernandez, primeiro chefe de estado a visitar o Haiti após o tremor.
O total de mortos no tremor pode ser de 45.000 a 50.000, e mais 3 milhões de pessoas estão feridas ou desabrigadas, disse uma autoridade da Cruz Vermelha no país.