Guerra entre Israel e Irã pode sair do controle, diz secretário-geral da ONU
António Guterres deu alerta em dia de tratativas entre Teerã e Europa, enquanto ataques dos dois lados continuam

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou nesta sexta-feira, 20, que a expansão do conflito entre Israel e o Irã pode “acender um fogo que ninguém poderá controlar” e apelou a ambas partes em conflito para “darem uma chance à paz”, referenciando a clássica canção antiguerra de John Lennon de 1969.
Guterres fez as declarações diante do Conselho de Segurança das Nações Unidas, com sede em Nova York, enquanto os ministros das Relações Exteriores da França, Alemanha, Reino Unido e a chefe de política externa da União Europeia se reúnem com seu homólogo iraniano, em Genebra, na esperança encaminhar o conflito de volta à diplomacia.
Os chanceleres europeus ambicionam levar Teerã de volta à mesa de negociações, para assinar com os Estados Unidos um novo acordo nuclear. As tratativas estavam em andamento há dois meses quando Israel lançou a Operação Leão Ascendente, em 13 de junho, visando instalações ligadas ao programa nuclear, ativos militares e a indústria de gás e petróleo iranianos, com a justificativa de que a nação persa está próxima de construir uma bomba atômica.
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Mas expectativas de um avanço são baixas, segundo diplomatas ouvidos pela Reuters. Às tensões do conflito em si, soma-se a ameaça do presidente americano, Donald Trump, que afirmou na quinta-feira 19 que decidiria “se aceitaria ou não” o envolvimento militar direto dos Estados Unidos, em apoio a Israel, nas próximas duas semanas.
Além disso, mais cedo nesta sexta, o chanceler iraniano, Abbas Araqchi havia afirmado que o país não voltará à mesa de negociações com os Estados Unidos enquanto Israel continuar lançando ataques, exigindo um cessar-fogo. Não está claro como isso afetará o encontro com os europeus.
“Os Estados Unidos são parte desta agressão”, disse ele a repórteres em Genebra. “Não podemos negociar a paz com um parceiro cúmplice de guerra.”
Diante do Conselho de Direitos Humanos, o ministro iraniano também acusou Israel de cometer crimes de guerra com “ataques não provocados” e disse que a ação militar corrói todo o sistema de direito internacional baseado na ONU. O embaixador israelense nas Nações Unidas, enquanto isso, disparou que o órgão virou palanque para Teerã – segundo ele, conceder a palavra a Araqchi minou a credibilidade do conselho e “constitui uma traição flagrante às muitas vítimas deste regime em todo o mundo”.
Ataques de ambos os lados continuam
Enquanto isso, as hostilidades continuam a escalar, sem sinais de arrefecimento no conflito. Ao menos 23 pessoas ficaram feridas em Israel na sexta-feira, 20, informaram os serviços de emergência, após o Irã disparar uma nova salva de mísseis contra o país. Segundo o Exército, projéteis foram lançados contra o norte, centro e sul do território israelense. A cidade portuária de Haifa está entre as atingidas, assim como o distrito de Dan, no extremo norte.
Também nesta sexta-feira, o exército israelense afirmou ter realizado uma nova onda de disparos contra dezenas de alvos militares durante a noite, incluindo instalações de produção de mísseis e uma organização de pesquisa envolvida no desenvolvimento de armas nucleares em Teerã.
Desde que Israel começou a realizar ataques aéreos ao Irã na sexta-feira passada, alegando que seu arqui-inimigo estava prestes a desenvolver armas nucleares, 639 pessoas morreram no país, de acordo com a Agência de Notícias de Ativistas de Direitos Humanos, com sede nos Estados Unidos. Entre as vítimas estão o alto escalão militar e cientistas nucleares.
Tel Aviv, por sua vez, afirmou que pelo menos duas dúzias de civis israelenses foram mortos por mísseis iranianos.
Acordo nuclear
Em 2015, um acordo abrangente foi firmado pelos Estados Unidos e outras nações com o Irã, com o objetivo de podar as ambições nucleares do regime dos aiatolás. Pelo pacto, o país estava autorizado a manter até 300 quilos de urânio enriquecido a no máximo 3,67% de pureza, limite adequado para fins civis, como geração de energia e pesquisa, mas muito abaixo dos 90% necessários para a fabricação de armas nucleares.
Na semana passada, porém, a Agência Internacional de Energia Atômica, denunciou pela primeira vez que a nação islâmica violou o tratado de não-proliferação do qual é signatária, três meses após divulgar um relatório alarmante, segundo o qual o Irã já acumula cerca de 275 quilos de urânio enriquecido a 60%.
Esse material poderia ser convertido em grau militar em apenas uma semana e seria suficiente para produzir até meia dúzia de ogivas nucleares — embora a construção de uma bomba funcional, a toque de caixa, deva levar ainda pelo menos um ano. (Teerã diz que não é nada disso; o programa nuclear teria apenas fins energéticos.)
Em seu segundo mandato, Trump voltou a apostar na diplomacia, mas uma nova série de negociações entre o Irã e os Estados Unidos fracassou quando Israel lançou a chamada Operação Leão em Ascensão, que mira instalações nucleares e capacidades balísticas do Irã, em 13 de junho. O presidente americano, agora, tem alternado entre ameaçar Teerã e instar o país a voltar à mesa de negociações. Seu enviado especial para o Oriente Médio, Steve Witkoff, conversou com Araqchi diversas vezes desde a semana passada, segundo a agência de notícias.