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Guerra comercial, Irã e imigração: retórica que elegeu Trump está em xeque

Para o presidente americano, o sucesso de sua política externa, 'Estados Unidos primeiro', será primordial para a reeleição

Por Kátia Mello
Atualizado em 4 jun 2024, 15h45 - Publicado em 28 jun 2019, 07h00

Donald Trump chegou na quinta-feira 27 a Osaka, no Japão, para a reunião de cúpula do G20, com uma agenda um tanto quanto atribulada na política externa. O presidente americano deverá se encontrar com aliados e adversários: o presidente chinês Xi Jinping, o russo Vladimir Putin, o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, o indiano Narendra Modi, o canadense Justin Trudeau e o príncipe saudita Mohammed bin Salman. Na pauta, enfileira-se uma série de demandas — a tentativa de estabelecer um acordo de comércio com Pequim, consolidar o apoio internacional no embate com Teerã, seguir com as negociações com a Coreia do Norte e discutir a crise migratória (tema espinhoso que, certamente, ocupará o epicentro do debate eleitoral das primárias americanas).

Para Trump, um presidente voltado para as ações domésticas, o sucesso de sua política externa, a dos “Estados Unidos primeiro”, será primordial para a reeleição, objetivo que acaba de anunciar. Depois de dois anos e meio na Casa Branca, a conduta linha-dura do republicano faz os americanos navegar em mares de águas turbulentas. “Agora a política externa de Trump está em avaliação. Ele vem enfrentando as consequências de suas escolhas e as contradições dentro delas”, diz Thomas Wright, da Brookings Institution. Segundo o analista, as dificuldades em negociações continuarão com ao menos três países: Irã, China e Venezuela.

A rota errática de Trump é uma montanha-russa que oscila entre vitórias e derrotas. Há bons resultados com as nações mais vulneráveis, como o México. Ao adotar a tática da guerra tarifária, ele conseguiu do presidente mexicano, Andrés López Obrador, o envio de 15 000 soldados à fronteira entre os dois países. No entanto, o cerco aos imigrantes ilegais se tornou ainda mais polêmico depois das denúncias sobre as degradantes condições das crianças em situação ilegal.

O drama da imigração ficou estampado na foto trágica dos salvadorenhos Óscar Alberto Martínez e sua filha Valeria, de apenas 2 anos, mortos por afogamento quando tentavam cruzar o Rio Grande, na fronteira do México com os Estados Unidos. O caso levou o chefe da Agência Alfandegária americana, John Sanders, a pedir demissão na terça-feira 25. No mesmo dia, o Congresso aprovou um pacote de emergência de 4,5 bilhões de dólares para acolher as crianças que se encontram na fronteira. Ainda no continente americano, o estrangulamento econômico da frágil Venezuela e o apoio ao líder de oposição Juan Guaidó deram com os burros n’água, insuficientes que foram para derrubar o regime de Nicolás Maduro.

Imigrantes mortos em rio no México
IMIGRAÇÃO – Pai e filha abraçados na morte: imagem do drama na fronteira (Stringer/Reuters)
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Em países fortes, como a China, a estratégia de impor tarifas não produziu efeitos positivos. O presidente chinês Xi Jinping reagiu às ameaças de Trump mostrando-se durão nas negociações, apesar da escalada da guerra comercial entre Pequim e Washington. Em maio passado, o mandatário americano prometeu elevar de 10% para 25% as tarifas sobre 200 bilhões de dólares em produtos chineses, intensificando a pressão para os dois países chegarem a um acordo. O anúncio feito pela Casa Branca de que as discussões seriam retomadas no Japão fez o mercado financeiro dos EUA suspirar de alívio, mas ainda é cedo para comemorar.

Com a Coreia do Norte, não foi diferente. O ditador norte-coreano Kim Jong-un recusou as exigências de Trump para que abandonasse seu arsenal nuclear em troca do alívio das sanções econômicas. E o aiatolá Ali Khamenei, do Irã, rejeitou categoricamente a oferta de Trump de negociar, depois que os Estados Unidos abandonaram, no ano passado, o acordo nuclear com o Irã. Esse trato havia sido meticulosamente acertado com Alemanha, França, Reino Unido, Rússia e China para restringir o programa nuclear iraniano, e, segundo relatos dos países envolvidos, estava sendo cumprido por Teerã.

Agora, Irã e Estados Unidos se enfrentam numa sucessão de ataques, verbais e bélicos, que ameaçam desestabilizar o Golfo Pérsico. Por trás da retórica beligerante residem os interesses da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos em arrastar os Estados Unidos para mais um conflito no Oriente Médio, desta vez para destituir à força o regime dos aiatolás, instaurado em 1979. Conforme relatório divulgado pelo Center for International Policy, os sauditas e os Emirados Árabes gastaram mais de 30 milhões de dólares em 2018 em empresas de lobby e relações públicas abertas sob a Lei de Registro de Agentes Estrangeiros. E esse dinheiro não foi gasto à toa.

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Na sexta-feira 21, apesar de Trump dizer que não desejava um confronto bélico com o Irã, revelou­-se que o presidente americano tinha autorizado um ataque com mísseis contra alvos iranianos depois que o país abateu um drone militar dos EUA, e ele só abortou a ideia após ter sido informado pelo Pentágono de que haveria no mínimo 150 mortes, o que aprofundaria o conflito. Movido a impulso e reação, e cercado pelos falcões John Bolton e Mike Pompeo, respectivamente conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca e secretário de Estado, Trump ainda fará muito desses zigue-zagues inesperados, sem deixar claro para Ocidente e Oriente quais serão seus próximos passos.

Publicado em VEJA de 3 de julho de 2019, edição nº 2641

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