Governo Trump ordena que embaixadas dos EUA suspendam entrevistas para visto de estudante
Decisão ocorre em meio à queda de braço do republicano com a Universidade Harvard, que foi proibida a princípio de matricular alunos internacionais

O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ordenou nesta terça-feira, 27, que embaixadas americanas mundo afora suspendam o agendamento de entrevistas de visto para estudantes estrangeiros. A decisão ocorre em meio à queda de braço do republicano com a Universidade Harvard, que foi proibida a princípio de matricular alunos internacionais por supostamente acobertar casos de antissemitismo e fomentar discriminação racial. O bloqueio a Harvard, no entanto, foi revertido temporariamente pela Justiça dos EUA.
Em novo cerco, o telegrama do Departamento de Estado instruiu nesta terça-feira as seções consulares a interromperem a adição de “qualquer capacidade adicional de agendamento de visto de estudante ou visitante de intercâmbio (F, M e J) até que novas orientações sejam emitidas” em alguns dias. A diretriz pode atrasar o processamento da documentação e prejudicar universidades do país, muitas delas acusadas pelo governo Trump de serem “woke” (termo relacionado à ideologia progressista).
“O departamento está realizando uma revisão das operações e processos existentes para triagem e seleção de candidatos a vistos de estudante e de visitante de intercâmbio”, disse o telegrama, acrescentando que novas orientações incluirão a “ampliação da seleção de mídias sociais para todos esses candidatos.”
A ordem demonstra o endurecimento do processo de triagem dos EUA, que passou a analisar a partir de março se estudantes participaram de protestos pró-Palestina em campi universitários. Os agentes passaram a ser obrigados a verificar as redes sociais dos aplicantes de visto em busca de “atividades terroristas ou a uma organização terrorista”, revelou um telegrama obtido pelo jornal britânico The Guardian na época.
Os funcionários consulares devem tirar capturas de tela de qualquer conteúdo “potencialmente depreciativo” para registros permanentes, ainda que a postagem tenha sido apagada. Há mais de um milhão de estudantes estrangeiros nos Estados Unidos, que contribuíram com quase US$ 43,8 bilhões (mais de R$ 247 bilhões na cotação atual) para a economia americana e geraram mais de 378 mil empregos entre 2023 e 2024, de acordo com dados da Associação de Educadores Internacionais (NAFSA, na sigla em inglês).
+ Em novo golpe, governo Trump planeja cortar todos os contratos federais com Harvard, diz jornal
Trump x Harvard
O governo Trump planeja cancelar todos os contratos federais restantes, estimados em US$ 100 milhões, com a Universidade Harvard, mostrou uma carta obtida pelo The New York Times nesta terça-feira. O texto foi assinado por Josh Gruenbaum, comissário do serviço de aquisição federal da Administração de Serviços Gerais (GSA, na sigla em inglês), e também orienta que agências a “encontrarem fornecedores alternativos” a Harvard no futuro.
O documento alega que a universidade pratica discriminação, desobedece a ordem da Suprema Corte ao usar critérios raciais em processos de admissão e acoberta casos de antissemitismo. A carta cita os dados apresentados ao mais alto tribunal dos Estados Unidos no âmbito do caso Students for Fair Admissions v. Harvard: “Para os candidatos no decil acadêmico superior, as taxas de admissão variaram significativamente por raça. Nesse decil, as taxas de admissão foram: 56% para afro-americanos; 31% para hispânicos; 15% para brancos; 13% para asiáticos”.
“A Suprema Corte, em sua decisão sobre o caso, repreendeu a política e prática de longa data de Harvard de discriminar com base na raça. Harvard não demonstrou nenhuma indicação de reformar seu processo de admissão – pelo contrário, Harvard agora é obrigada a oferecer um curso de matemática de recuperação, que tem sido descrito como ‘matemática do ensino fundamental’, para os calouros. Esses são os resultados diretos do emprego de fatores discriminatórios, em vez de mérito, nas decisões de admissão”, acusou o texto divulgado pelo NYT.
A carta instrui as agências federais a retornarem com uma lista de cancelamentos de contratos até 6 de junho. Qualquer um que seja considerado crítico não será cancelado de imediato, apenas transferido para outros fornecedores. Ao todo, contratos com nove agências serão afetados, disse um funcionário do governo, sob condição de anonimato, ao jornal americano.
Trata-se do mais recente golpe do republicano contra a instituição, resultado da escalada de tensões entre os dois lados depois de Harvard se recusar a cumprir com uma controversa lista de demandas da Casa Branca. Segundo a secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, a universidade teve “oportunidades de fazer a coisa certa”, mas não o fez.